quinta-feira, junho 23, 2016

(EdH) Naachtun, uma cidade maia (3ª parte)

Tikal fica a cerca de 60 kms de Naachtun e chegou a ser a grande capital regional da civilização maia. A arquitetura imitava a de Teotihuacan, mas era vista por esta como uma ameaça a derrotar para que não federasse as diversas cidades maias na floresta tropical.
O epigrafista Alfonso Lacadena encontrou estelas onde estão inseridas as provas do envio de exércitos de Teotihuacan para derrotar Tikal, contando para tal com o apoio logístico de Naachtun.
A batalha decisiva acontece em janeiro de 378, quando o rei de Tikal é derrotado e condenado à morte, sendo substituído por quem Teotihuacan nomeou. Naachtun deverá ter recebido, nessa altura, os privilégios de se ter colocado do lado dos vencedores.
Os cientistas poderiam chegar a conclusões mais consubstanciadas se os palácios, que descobrem soterrados no âmbito da sua investigação, não tivessem sofrido pilhagens e vandalismos alguns séculos atrás. Ainda assim, podem concluir que, no século V da nossa era, existia um palácio e um templo de grande esplendor, à volta do qual se abrigavam milhares de habitantes, endo por principal ocupação a agricultura e a exploração dos recursos florestais.
Lydie Dussol, professora na Universidade da Sorbonne, estuda os grãos resgatados da terra prospetada, encontrando informações complementares sobre o tipo de alimentação dos maias ou a forma como a cozinhavam: o carvão serviria para rituais funerários, mas também para a culinária.
No século V toda a América Central vivia em permanente estado de guerra, quer isso dissesse respeito a grandes, quer a pequenas cidades. Até então discreta, Calakmul, irrompe subitamente a afirmar o poderio do seu reino da serpente. Com quarenta mil habitantes, ameaça diretamente Naachtun, pois faz das antigas cidades ligadas a Tikal, ou das que a haviam combatido, as suas inimigas.
Uma perturbadora sepultura, colocada no fundo de uma escadaria, dá conta do sucedido: refere-se à derradeira morada de uma mulher, que era acompanhada de uma estela com motivos específicos de Carakmul. Os cientistas acreditam ter-se tratado de uma princesa imposta ao povo de Naachtun como sua rainha, depois da derrota da cidade e da sua rendição ao sitiante.
Mas a defunta terá conhecido, muito provavelmente, um final pouco lisonjeiro, porque, além de vandalizada, a campa tinha sido colocada num sítio onde, nos seus afazeres, os habitantes de Naachtun a pudessem pisar. O que dá conta de uma efémera dominação da cidade por Calakmul, seguida de uma ostensiva manifestação de independência pelos revoltosos.
Naachtun conhece, então, um súbito salto de prosperidade, avançando para leste e dotando-se de novos edifícios. Mas entre 750 e 950 d.C terá sido abandonada a exemplo de outras cidades da região.
Terá acontecido algo constatado em Copan, cidade situada mais a sul, já no território das Honduras, onde a realeza deu lugar à progressiva partilha do poder por um conjunto de famílias mais influentes. Por volta do séc. VIII as sepulturas começam a denotar sinais de subnutrição nos cadáveres, continuando por se saber se as causas do declínio residiram nas guerras sem fim, nos desastres naturais ali tão frequentes, nomeadamente os furacões, ou se na sobre-exploração dos recursos naturais depois de sucessivas secas.
Com muito ainda por descobrir a equipa francesa de Michelet e Nondedeo tem trabalho garantido para os próximos anos.

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