quarta-feira, junho 22, 2016

(EdH) Naachtun, uma cidade maia (2ª parte)

Naachtun parece ter sido fundada numa altura em que a cidade vizinha, hoje crismada como El Mirador, passava por dificuldades. O aparecimento de uma parece coincidir com o desaparecimento da outra, apesar de nela se contar com uma das pirâmides mais volumosas das que se construíram a nível mundial. Recentemente, Richard Hansen, que comanda as investigações empreendidas pela Universidade do Idaho, descobriu baixos relevos, que exprimem uma capacidade económica muito importante, talvez correspondente à primeira grande entidade estatal em território americano. O que suscitaria invejas e rivalidades.
Hansen ainda não conseguiu provas concretas da razão do abandono da cidade entre os anos 150 e 200 da nossa era, nomeadamente vestígios de batalhas ou de desastres naturais, mas arrisca a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, nomeadamente com a desflorestação decorrente de se produzir carvão, num prenúncio do que pode ocorrer com as sociedades dos nossos dias à medida que se forem esgotando as fontes não renováveis em que assentámos a nossa qualidade de vida.
Uma das descobertas da equipa de Michelet e de Nondedeo em Naachtun foi a de se encontrarem sepulturas onde tinham existido residências dos respetivos habitantes, como se os seus elementos mais proeminentes ficassem, mesmo depois de mortos, a “conviverem” no seu espaço familiar. E outra constante foi o surgimento de pratos furados na zona da sua cabeça, desconhecendo-se a sua função ritualística.
Valentina Vapnarsky, uma etnóloga associada à equipa francesa, tem passado os últimos anos em contacto com uma aldeia do lado mexicano da fronteira, onde aprendeu a língua e alguns dos atuais rituais e costumes, que possam provir do passado ancestral de que se pretendem conhecer os fundamentos. Nomeadamente os métodos agrícolas utilizados na sementeira, que podem ainda ser os mesmos dos que praticavam os antepassados há mil anos: queimadas para limpar o solo, a utilização de uns paus endurecidos a fogo nas pontas para escavarem mais fundo e a junção de culturas de milho, abóboras e feijão no mesmo espaço, de forma a que as espigas do cereal propiciem a sombra necessária às que com elas estejam misturadas. Uma forma expedita de aproveitar um solo não tão rico quanto seria necessário para prover ao sustento de populações numerosas.
As estelas descobertas pelos arqueólogos contam episódios da vida da cidade, mas estão demasiado delapidadas pelos rigores meteorológicos de séculos sucessivos para que permitam facilidades ao epigrafista Alfredo Lacadena, convocado pela equipa para a ajudar.
Outra alternativa consiste em armar o imenso puzzle constituído pelos milhares de cacos de cerâmicas descobertas no solo já investigado. Um ceramólogo procura encontrar similitudes entre os vestígios encontrados, com os de outras cidades como Teotihuacan, apesar de situadas a longas distâncias.  A grande metrópole está a mais de mil quilómetros, ficando próximo da capital mexicana, e contava então com cerca de cem mil habitantes provenientes de populações oriundas de todos os pontos cardeais, atraídas pelo seu estatuto cosmopolita.
A equipa de Michelet e Nondedeo concluirá que não só existia essa comunicação entre Naachtun e a cidade multiétnica, que tanto influenciaria os aztecas e outras civilizações mesoamericanas, como ela influenciaria o seu futuro.

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