terça-feira, junho 21, 2016

(A) A pirâmide do Louvre desapareceu

Quando falamos de artistas, que usam as ruas das grandes cidades como seus espaços expositivos, é muito natural referirmos o português Vhils, o anglo-saxónico Banksy ou o francês JR, como integrando o lote dos mais representativos. Este último acaba de concretizar o projeto de esconder a pirâmide do Louvre com um gigantesco trompe l’oeil, que revela um passo evolutivo na sua obra, até recentemente feita de grandes retratos de rostos humanos um pouco por todos os continentes, desde o Brasil à China, dos EUA a Cuba, da Holanda à Serra Leoa.
De qualquer forma, Jean René (daí as iniciais JR) mantém o recurso à técnica da colagem fotográfica em dimensões tais, que chama inevitavelmente a atenção de populações com nenhuns hábitos de visita a museus.
De origem judia, cresceu em Montfermeil, nos subúrbios de Paris, e viveu a experiência dos mercados, tipo feira da ladra, onde os pais costumavam fazer pela vida. No liceu iniciou-se nos graffitis adotando logo de início as iniciais do seu nome como assinatura e o multiculturalismo como tema. Ainda hoje ele se autodefine como ativista urbano.
Ao planear a intervenção sobre o icónico edifício concebido pelo arquiteto I.M. Pei, JR quis esclarecer uma dúvida: “ao circundar a pirâmide, compreendi que as pessoas viram-se de costas para ela para tirar uma selfie. Na prática não a olham. Agora estou curioso quanto ao que será a sua atitude”.
Nesse assumido abandono dos rostos de dimensões gigantescas, JR busca atrair a atenção das pessoas através da ausência de algo, que sabiam ali presente, obrigando-as a consciencializarem essa falta que as leva a olhar para o monumento com outro ângulo.
Faltando apenas seis dias para que a pirâmide retome o seu aspeto convencional, não se pode dizer que a instalação tenha alcançado um dos objetivos confessos do criador: a reabertura do debate sobre o modernismo que dividiu a sociedade francesa na década de 80, quando I.M. Pei revelou a sua obra. Na época muitos condenaram-na porque iria “arruinar” a joia arquitetónica do século XVI. Três décadas depois a pirâmide transformou-se num dos monumentos mais fotografados da cidade e considerado um dos seus símbolos artísticos mais audazes.
JR quis, no fundo, demonstrar no que teria voltado a ser o Louvre sem a sua imprescindível pirâmide.


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