quarta-feira, junho 08, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Raides financeiros à russa» de Alexander Gentelev

Na Rússia, após a implosão da União Soviética, surgiu um liberalismo selvagem, que tomou o lugar da economia estatal, sem que exista um sistema jurídico fiável.
Este documentário de 2012 mantém toda a atualidade sobre a forma como muitas fortunas surgiram na Rússia de um dia para o outro e aumentaram as desigualdades entre uma minoria criminosa e plutocrata e a grande maioria, que vive numa pobreza cada vez mais insuportável.
Numa primeira fase dominaram os «diretores vermelhos», antigos responsáveis do regime comunista que se reciclaram com maior ou menor sucesso durante todo o processo de privatizações.
Vieram depois os raides negros, especuladores ferozes que passaram a aproveitar os vazios jurídicos com a cumplicidade de juízes venais. Roubam sem escrúpulos, invadem empresas, que passam a considerar suas, falsificam documentos, conseguem sentenças iníquas nos tribunais, intimidam, corrompem, chantageiam, assassinam se necessário.
Tornaram-se incontáveis os atentados contra pessoas e bens, quando decidiram apropriar-se de prédios, fábricas, lojas, restaurantes ou apartamentos. A um ponto tal que a bolha imobiliária inchou enormemente em Moscovo. O preço do metro quadrado num bairro bem localizado da capital ultrapassa atualmente os 20 mil dólares.
Todas essas operações fraudulentas e criminais contam com a complacência, senão mesmo a cumplicidade ativa da polícia, dos tribunais e dos responsáveis políticos.
Alexander Gentelev, o realizador, convenceu alguns dos que participaram nesse tipo de golpadas, e entretanto se arrependeram, a explica-las, alternando os testemunhos com os de várias vítimas, que arriscaram a vida ao surgirem às claras perante a câmara.
Ouvir a história de Marina Ovchinnikova, condenada a nove anos de trabalhos forçados por se ter revoltado contra a expulsão do apartamento, que havia comprado, é um momento impressionante num filme assaz elucidativo. Assim como a dos artistas Alexei Grekov, Pavel Nikonov ou Serguei Alimov, que só puderam manter o seu atelier graças à fama internacional que a sua obra já alcançou.

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