sexta-feira, junho 24, 2016

(DIM) «O que está por vir» de Mia Hansen-Løve

Foi com este «O Que está por vir», que nos despedimos do Indie deste ano e, na altura, entre muitos afazeres, nada anotei sobre este filme, que tanto nos agradou. O que não é difícil, porque basta ter Isabelle Huppert no papel principal para dar o tempo por bem utilizado.
Mas há mais do que isso: embora realizado por uma cineasta da geração da nossa filha - Mia Hansen-Løve nasceu em 1981 - ela expressa muitos dos impasses em que caiu a geração a que pertencemos, capaz de acreditar que faria a diferença num mundo pejado de injustiças, e afinal desorientada no meio de todos os compromissos a que se sentiu condicionada.
Nathalie é a professora de Filosofia que, aos 55 anos, julga a vida mais ou menos estabilizada num casamento sem chama, mas também sem conflitos, e responsável por uma coleção de livros de que muitos e orgulha.
De repente o marido abandona-a, a editora deixa de estar interessada no tipo de propostas por ela assumidas e até o seu melhor aluno, que ela visita na comuna em que ele se instalara, algures no Jura, a confronta com o facto de nunca ter arriscado verdadeiramente fazer o que quer que fosse pelas ideias solidárias em tempos por ela assumidas.
O que pode fazer Nathalie, quando todas as certezas se esboroam, sem que nada consiga fazer por as evitar? Seguir em frente é a solução! E essa é de facto a grande lição dada pelo filme: nunca nos devemos esquecer de tudo questionar, de tudo pôr em causa (é esse de facto o grande sentido da Filosofia), só havendo um caminho, o de seguir em frente. Até porque os condicionalismos acabam sempre por desaparecer, como é o caso da mãe dela, uma mulher acometida pela doença de Alzheimer, que acaba por morrer depois de tanto a solicitar nos últimos meses ou anos, ou o destino dado à gata de estimação adotada pelos «communards» do Jura.
Para Nathalie, e para todos nós, os melhores dias deverão ser sempre os que estão por vir, porque nos outros nada poderemos mudar.

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