domingo, setembro 18, 2005

«YEHUDI MENHUIN, O VIOLINISTA DO SÉCULO», UM FILME DE BRUNO MONSAINGEON

Durante muito tempo, Bruno Monsaingeon julgou ter chegado demasiado tarde: embora tivesse na sua colecção todos os discos gravados por Yehudi Menhuin entre 1928 e 1944, não saberia como emcontrar quaisquer registos em imagens do fabuloso violinista, que lhe garantisse a exequibilidade de um documentário. Até que essas imagens começaram a sair dos baús e esse filme tornou-se possível para dar a conhecer a vida e a obra de um artista de excepção.
O próprio Yehudi, já em provecta idade, vai situando os registos fotográficos e cinematográficos, que Monsaingeon lhe vai apresentando.
Começando, naturalmente, no seu nascimento, que definiu à partida o seu destino através do nome escolhido pela mãe: ao sentir-se na iminência de ver aumentada a família, a mãe de Yehudi procurou um novo apartamento em Nova Iorque, quando ela e o marido estudavam na Universidade do Bronx. Ao escolher uma determinada casa, ela vira a futura senhoria dar como referências do bom ambiente do seu prédio o facto de dele excluir os judeus. Isso decidiu a futura mãe a dar ao seu rebento - e às duas filhas, que se lhe seguiriam - nomes indubitavelmente judeus.
Desde muito cedo essa mesma mãe revelaria uma determinação singular em dar a Yehudi uma boa educação musical, tão só descortinou nele o interesse pelo violino. Uma rotina exigente, quase obsessiva, daria origem ao génio precoce, que não tardaria a maravilhar as plateias das salas de concertos.
Paul Paray, que conhecerá Yehudi em Paris, quando ele tem dez anos, fica rendido à sua interpretação da «Sinfonia Espanhola» de Lalo e encaminha-o para Enesco, o grande compositor e professor de violino, que obrigará a família a dividir-se: a mãe e as crianças ficam na cidade luz, enquanto o pai de Yehudi regressa a São Francisco.
Quando se sente incapaz de levar o seu pupilo a maiores progressões, Enesco encaminha-o para Adolf Busch, que tutelará a sua progressão em 1929 e 1930. Mas o rapaz sempre preferirá o vibrato romântico de Enesco à racionalidade alemã do seu novo professor.
Os jornais já proclamam, entretanto, que Menhuin será um novo Mozart, constituindo a sua maestria um autêntico milagre. A gravação, que em 1932, fará em Londres com Elgar constitui um autêntico acontecimento no mundo musical.
Durante a guerra toca em hospitais num contacto directo com os seus auditores. A sua devoção ao esforço de guerra dos aliados é tal, que chega a dar três concertos diários, não lhe sobrando tempo para aperfeiçoar a sua técnica. E a peça com que encerrava esses espectáculos de beneficência era, invariavelmente, o «Ave Maria» de Schubert.
No entanto, quando a guerra acaba e regressa a Berlim, após uma prolongada ausência, não hesita em tocar com Furtwangler ainda então alvo de marginalização devido à sua colaboração com a política cultural nazi. Demonstrando que, mais do que a política, o seu compromisso era, sobretudo, com a música. A grande música, de que foi intérprete superlativo...

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