sábado, setembro 24, 2005

NAS CINZAS DE BAMYAN

E se se encontrasse o mítico Buda deitado nas redondezas do local aonde os talibãs destruíram as gigantescas estátuas de Bamyan? Sem conseguir resgatar o crime de lesa cultura, que esse acontecimento significou, tratar-se-ia de uma boa resposta da arqueologia ao vazio deixado por esse regime financiado pelos EUA para facilitar os seus projectos geo-estratégicos.
Porque nunca se poderá esquecer que o Afeganistão foi um país aonde a cultura teve um papel determinante.
Nos anos 60 o Museu de Cabul era uma instituição recheada de tesouros das muitas civilizações, que por ali foram passando ao longo dos séculos. E que energúmenos destruíram à machadada, porque o islamismo fundamentalista condena a representação humana.
Como destruíram todas as bobines do cinema afegão, que produzira centenas de títulos ao longo do século XX!
Depois de os terem financiado durante a guerra contra a Ocupação soviética, a Casa Branca nunca se incomodou com tais crimes. O cheiro a petróleo oriundo das grandes planícies da Ásia Central justificava uma empatia de interesses, que já provava dar tão bons resultados com o regime saudita.
Veio o 11 de Setembro e George W. Bush pôs-se a ouvir vozes. De Deus, sabe-se agora…
E em vez de o internarem num manicómio, os norte-americanos deixaram-se arrastar por ele para os verdadeiros atoleiros em que se converteram o Afeganistão e o Iraque.
Se em relação aos talibãs, todo o Ocidente civilizado suspirou de alívio esperançado numa melhoria significativa do respeito pelos direitos humanos, e mais especificamente por um maior respeito pelas mulheres, quanto ao Iraque já isso não se verificou. E foi a intervenção norte-americana, que não só destruiu inúmeros tesouros arqueológicos, doravante sujeitos a pilhagens, como criou uma base logística de apoio aos terroristas anteriormente aí inexistente.

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