quarta-feira, agosto 24, 2016

(V) Quatro semanas em 1945

Há momentos da História, que me fascinam por quanto neles sucedeu, ao suscitarem consequências bastantes para mudarem a face do mundo tal qual então existia. O intervalo entre a morte de Roosevelt em 12 de abril de 1945 e a capitulação nazi em 8 de maio, é um desses períodos, porque a política norte-americana formatou-se para se revelar despudoradamente imperialista no pós-guerra.
À data da tomada de posse do medíocre Truman  - cuja insignificância era tal, que o antecessor nunca o levara consigo para as conferências com Churchill e com Estaline -, as tropas aliadas avançavam para Berlim, pondo fim ao sonho nazi de um mundo regido por uma raça superior e que redundara em cidades destruídas e milhões de vítimas nos dois lados do conflito.
No Pacífico o exército japonês, que semeara o terror e a morte por todo o continente asiático nos últimos oito anos também estava exausto, com a Marinha Imperial quase inteiramente afundada.
Se nas sucessivas batalhas do Pacífico os americanos contabilizavam novecentas mil baixas, as japonesas ascendiam a um milhão e cem mil. O ministro da Guerra, general Korechika Anemi não via forma de repatriar as centenas de milhares de soldados, que tinha na Manchúria, quanto mais para reforçar o dispositivo militar em Okinawa, cuja perda equivaleria à derrota definitiva por muito que, em público, e nas reuniões ministeriais nunca se eximisse de reivindicar uma vitória final graças ao espírito japonês de lutar até à morte sem aceitar qualquer forma de rendição.
Na primeira reunião com a sua Administração, Truman nada alterou à estratégia seguida por Roosevelt, embora se apressasse a designar James Byrnes como seu nº 2 na qualidade de Secretário de Estado. Muito ambicioso e também sentindo indisfarçável desprezo por Truman, Byrnes é um falcão, que já imagina um pós-guerra à medida dos interesses norte-americanos.
Truman também foi informado da existência de uma nova bomba, que poderia precipitar a definição dos acontecimentos na Ásia. Tratava-se do Projeto Manhattan, liderado pelo general Leslie Groves que já deparava com as resistências éticas do responsável científico Robert Oppenheimer (ambos na foto). Este adivinhava que a nova bomba alterararia definitivamente as regras das guerras futuras dando aos líderes políticos a capacidade de destruírem a Humanidade.
Groves nada queria saber desses escrúpulos e comprometeu-se com Truman em ter a bomba de urânio pronta para meados de julho. Razão porque a casa Branca fez chegar às autoridades de Tóquio a exigência da capitulação sem condições logo no dia subsequente à celebração europeia da vitória.
Na reunião ministerial desse dia o primeiro-ministro Suzuki já não alimentava ilusões quanto ao que viria a acontecer, mas os militares não abandonaram a sua prosápia guerreira e até equacionaram a necessidade de tomarem o poder num golpe de Estado.
Em apenas quatro semanas os primeiros sinais da Guerra Fria estavam a revelar-se em Londres e em Washington.

Sem comentários: