quarta-feira, agosto 17, 2016

(L) O Massacre de Nataruk

Quando se pensava que a capacidade de extermínio de massas tinha surgido com as sociedades sedentárias, um massacre ocorrido há dez mil anos fez reequacionar as mais comuns teorias sobre a nossa violência coletiva.
Esse genocídio verificou-se numa pequena planície junto ao lago Turkana no norte do Quénia, perto do local tido como berço da Humanidade, e foi revelado em 2012 por vinte e sete esqueletos de pessoas aí violentamente assassinadas.
Na época o sítio correspondia a uma praia à beira do lago, razão porque os corpos rapidamente se viram cobertos naturalmente sem dar tempo para que necrófagos os danificassem. O relativo bom estado das ossadas facilitou, assim, o trabalho dos arqueólogos.
Nas proximidades não se descobriram vestígios de qualquer acampamento ou exploração agrícola, o que confirma a natureza nómada de tal população. Pedaços de obsidiana, utilizados como pontas para as armas utilizadas no crime, confirmam que os agressores vieram de longe, já que se trata de material inexistente naquela região.
Agressores e agredidos estariam, pois, de passagem, não se conseguindo imaginar o que possa ter justificado a dimensão violenta do seu embate. É que a sedentarização só ocorreria cerca de mil anos depois.
O entusiasmo inerente a este achado tem a ver com o facto de se julgar existir uma relação direta entre a sedentarização e a manifestação de atos de violência coletiva, explicados pelo surgimento do efeito de acumulação de animais domesticados, de alimentos em celeiros e outros bens só possíveis com a fixação de populações e a cobiça consequente por parte dos que as ansiavam adquirir por pilhagem.
Anteriormente, quando as tribos se iam deslocando de terra em terra, os embates seriam mais esporádicos e não propiciariam tão grande mortandade. Afinal conclui-se agora que o Bom Selvagem de Rousseau já continha em si as características de perversidade, depois potenciadas com a sua transformação em ser (mais ou menos) civilizado.
Para Richard Wrangham “mais do que empurrar-nos para a guerra, a sociedade moderna deverá ter por objetivo afastar-nos da nossa natureza violenta. É que a noção de paz é recente e deve tornar-se em utopia concretizável na sociedade em que nos inserimos”.

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