domingo, agosto 07, 2016

(L) A ambiguidade em Henry James

No final do romance «Retrato de uma Senhora» ficamos sem saber o que sucederá a Isabel: James delega no leitor a tarefa de imaginar o que se lhe seguirá. Essa participação continuamente solicitada é um dos elementos fundamentais do suspense sabiamente doseado, que mantém o leitor na expetativa e a hesitar entre diversas interpretações.
Subsiste essa presença do mistério em muitas das suas histórias, que chegam a integrar o género fantástico ao revelarem-se inexplicáveis. Em «The Turn of the Screw» («O Calafrio») estamos num universo que vai mais além do que a aparente história de fantasmas: trata-se do relato alucinante de uma governanta incumbida de educar duas crianças perversas.
Ao apreciá-lo o leitor vai-se interrogando se não está perante efabulações de uma governanta descontrolada, que projeta os seus fantasmas nas crianças inocentes em declarada exploração do seu inconsciente.
Esta ambiguidade também se encontra em «The Figure in the Carpet» com o segredo do escritor a ficar escondido sem se desvendar a sua verdadeira natureza (artística? Sexual?). Tal obsessão pelo nebuloso corresponde à conceção de um eu inalcançável, de que apenas se apreendem frases e facetas desconexas.
São-nos negadas soluções definitivas, que expliquem todos os contornos da história. Como sugeria James “nunca se sabe qual é a última palavra quando se trata do coração humano.”
A exemplo de Musil, ele sempre se sentiu fascinado pelo possível: daí qua os seus personagens masculinos, sobretudo quando se trata de artistas, nunca se cheguem a desvendar.

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