terça-feira, agosto 23, 2016

(V) «Boa Noite Cinderela»

Dos realizadores nacionais, que ainda não deram o salto da curta para a longa metragem, Carlos Conceição é dos que mais expetativas me cria, tão amadurecidos me parecem os projetos, que dele vi. «Versailles» e «Boa Noite Cinderela».
No caso deste último filme, datado de 2014, e escolhido para o Festival de Cannes desse ano, o mínimo que se pode dizer é de ter utilizado eficientemente os cenários naturais de Sintra e do Palácio da Pena, na criação de uma ambiência romântica muito de acordo com a época em que, supostamente, se passa a ação.
Estamos a meio do século XIX, quando o príncipe herdeiro D. Luís ainda não tem noiva e uma criada ensaia com ele a estratégia da Gata Borralheira. Por isso desaparece uma noite do baile em que ele estava, deixando para trás um maravilhoso sapato. Encontrar quem usara tal peça de vestuário torna-se para o visado uma obsessão, contando para tal com a ajuda do escudeiro, D. Afonso. Este, porém, identificara a autora da tramoia e avisa-a para a insensatez de querer chegar onde nunca lhe seria possível.
Será que Afonso assim age por ciúmes? É que a relação com Luís não deixa de ser bastante ambígua!
O filme de Conceição organiza-se assim nessa sugestão irreverente, que até ganha maior consistência quando se dá o encontro final de Luís com a ambiciosa criada e se conclui estar ele apenas interessado em conseguir dela o outro sapato com que conseguirá completar o par.
Haverá, igualmente, alguma mordacidade, quando, na legenda final, se informará que D. Luís casará com Maria Pia de Sabóia ... por procuração.


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