terça-feira, agosto 02, 2016

(V) Mostrar arte é toda uma arte

Se já antes respeitava o labor dos comissários ou curadores de exposições para nos darem a ver a arte alheia, aumentei deveras essa admiração numa das minhas estadias em Londres, quando compareci a um dos eventos mais badalados do ano: a mostra de verão da Royal Academy of Arts.
Não me pude queixar da quantidade ou da qualidade dos artistas expostos, embora a maioria me fosse completamente desconhecida. Mas aquela forma de empoleirar quadros nas paredes desde a altura do pavimento até ao teto só servia para menorizar o que deveria ser apresentado com outros cuidados. É que a nossa apreciação de uma obra artística altera-se bastante consoante ela está dez centímetros acima ou abaixo do nosso campo visual. Ora, se muitas delas estão num ângulo que nos obriga a esticar o pescoço até quase ficarmos com um torcicolo, decerto delas nada extrairemos de memorável por muito relevantes, que se venham a revelar noutro contexto.
Acresce ainda que, devido à “obrigatoriedade “ de cada londrino ter lá ido para não ficar mal visto nos seus círculos sociais, andei a espreitar para os quadros por cima dos ombros ou por entre as cabeças dos muitos basbaques por ali estacionados.
Ver arte é muito mais do que marcar o ponto num evento social: obedece a um recato, que se torna raro, quando o objetivo deixa de ser a apreciação das obras, mas o preenchimento de uma qualquer check list pessoal onde só conta o ter estado num sítio para disso nos podermos gabar aos amigos.
É por isso que muitas das exposições disponíveis um pouco por todo o mundo só se tornam interessantes em função do trabalho de curadoria nelas investido.



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