quarta-feira, agosto 17, 2016

(V) O Século de Simenon

A série de documentários de Pierre Assouline intitulados «O Século de…» partia sempre de um principio: em vez da utilização da terceira pessoa do singular para abordar as biografias dos escritores e artistas escolhidos, optava por construir um argumento constituído por palavras ditas ou redigidas por eles, como se se contassem a si mesmos.
O filme dedicado a Georges Simenon já tem quatro anos e passou a ser uma referência para todos os apreciadores do criador do inspetor Maigret, que puderam contar com um conjunto de entrevistas e documentos de arquivo ainda inéditos ou pouco conhecidos até serem aqui congregados. Um deles, presente intervaladamente por todo o filme, é o próprio Simenon a ler em voz alta, a «Carta à Minha Mãe» e bem reveladora da importância assumida pela progenitora em toda a sua vida.
O autor de 260 (!) romances - dos quais 72 tendo Maigret como protagonista! - fala sobre a infância em Liège cujo céu quase sempre permanentemente nublado nunca deixaria de povoar as suas histórias.  Sobre essa ápoca, o próprio Simenon escreveria: “Não éramos suficientemente pobres para que chegasse a ser belo. (…) Eu sofria com a feiura de tudo quanto me rodeava”.
Recorda, igualmente, a estreia como jornalista e de folhetinista no «Le Matin», então dirigido por Colette, e a mania em colecionar amores invariavelmente efémeros. Quando começou a ter sucesso com os primeiros «Maigret» a crítica literária fê-lo alvo dos seus exercícios de tiro, apesar do talento para escalpelizar a moral pequeno-burguesa então vigente.
Triunfo da persistência, o sucesso ainda virá a tempo para que ele se sentisse um dos mais bem sucedidos escritores do século XX.



Sem comentários: