domingo, agosto 28, 2005

«LE DEUIL DE LA VIOLENCE» de OLIVIER LASSU


Aconteceu sempre na história humana: o homem sempre causou indizíveis sofrimentos no seu semelhante. Refinando na crueldade contra essas vítimas, que, muito dificilmente, se libertarão do correspondente trauma.
Olivier Lassu aborda seis exemplos de vítimas, sujeitas a diferentes tipos de agressão. Buscando aspectos, que lhes sejam comuns, mormente nas formas de superar as consequências psicológicas do que se sofreu.
A começar por Mya, uma miúda de 14 anos, que, entre os 3 e os 6 anos, foi continuamente violada por um meio-irmão. Sendo transferida para uma família de acolhimento, quando tudo se descobriu, como se coubesse a ela a punição de se ver afastada da mãe.
Aparece depois Ahmed, um jovem de Rafah, na Palestina, que quase morreu com as duas balas disparadas ao seu peito por militares israelitas e, desperto do coma de quatro meses, nunca mais conseguiu sair de casa. Uma ilusória protecção contra as temidas forças de Ocupação.
Stéphanie, por seu lado, tem 29 anos e vive em Paris. Há um ano foi violada à saída do Metro por um agressor, que a ameaçou matar naquele momento. Na sua terapeuta, ela coloca a questão: se já fui atacada uma vez, o que impedirá que o volte a ser uma segunda ou uma terceira? A sua maior dificuldade residirá em reencontrar sensações corporais, recuperar a capacidade para alcançar o prazer...
No Canadá vive Jean, que, aos cinco anos, foi resgatado do genocídio do Ruanda com queimaduras graves e as mãos mutiladas.
Apesar dos anos decorridos desde então, ele ainda tem bem presentes as imagens dessa morte à solta à sua volta, que lhe elimina toda a família.
Na faixa de Gaza, o realizador encontra outras crianças palestinianas, de 9 e 6 anos respectivamente, que vivem junto a um dos postos de observação israelita. Colhendo dos dias os sustos de muitos tiros disparados à volta da casa, que se revela precário abrigo…Hoje Alá, que viu o primo Chadi ser assassinado à sua frente, confessa não ter pejos em se vir a converter num mártir...
Ainda assim, o que leva o sorriso aos seus lábios inocentes? Explica um psicólogo que assiste ali a uma hiperadaptação a uma situação anormal: as pessoas procuram manter as suas rotinas, mesmo nessa situação insuportável.
O próprio filme parece contribuir para a catarse dessas pessoas, que perderam a sua identidade anterior. E a quem só resta a criação e afirmação de uma nova identidade…
Deixaram de ser quem eram, mas, em compensação, poderão reencontrar-se naquilo que serão…

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