terça-feira, agosto 09, 2005

ANARQUISTA NOS TEMPOS DE HOJE?

O que pode levar alguém a proclamar-se anarquista nos tempos, que vão correndo?
Foi isso mesmo, que ouvi do H. um dia destes ao jantar, quando discutíamos a situação política do país. Os seus argumentos eram aqueles que costumamos ouvir nos foruns televisivos e radiofónicos, aonde ganham importância conceitos perigosos do tipo «os políticos só querem é tacho» ou «são todos a mesma coisa».
São estes conceitos, que abrem aquecem esse ovo da serpente donde emergem os totalitarismos. Porque preparam caminho ao Redentor, que vindo de uma qualquer Santa Comba, logo começa por cercear as liberdades fundamentais.
E, no entanto, como é fácil identificar as características deste tipo de pessoas: normalmente de raiz pequeno-burguesa, vêem as suas aspirações condicionadas por uma crise económica passível de os projectar numa insegurança, que os aterroriza. O desemprego, a marginalidade ou o aumento do custo de vida inquieta-os, enquanto as televisões e as revistas cor-de-rosa mostram as vivendas de luxo em condomínios fechados, os porsches, os iates e as férias de sonho de um jet set olhado com inveja. Essa tal inveja tão realçada pelo José Gil no livro recentemente publicado, que se transformou num inesperado - mas, afinal, lógico - sucesso editorial.
Este tipo de pessoa não se compromete na acção cívica de transformar a realidade. Mas acha que os políticos deveriam ter em mente o bem colectivo em prejuízo do seu próprio bem estar. Quando é o primeiro a calçar as pantufas e sentar-se em frente ao televisor a vituperar esses governantes, que algum jornalismo irresponsável transforma em proto-delinquentes sobre os quais se justificam todas as suspeitas.
Vão difíceis estes tempos em que a seca prolongada e o irreversível evolução dos preços do petróleo limitam as hipóteses de governar bem. E o discurso destructivo das oposições em nada contribui para suscitar mitigados optimismos...

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