sexta-feira, fevereiro 15, 2019

(DL) Philip Roth e a Humilhação


Em maio cumprir-se-á o primeiro aniversário da morte de Philip Roth, que deixou então de ser um dos habituais nomes nas listas de apostas quanto ao próximo Nobel da Literatura.
Embora lhe aprecie os temas e a forma de os traduzir em ficção, nunca acreditei realmente em tal possibilidade. Se o júri sueco quiser voltar a premiar um norte-americano depois da ridícula decisão de contemplar Bob Dylan terá em Don DeLillo, o autor que corresponderia à minha preferência, embora também não desgostasse da opção por Paul Auster. Qualquer deles revelar-se-ia melhor escolha do que a do tal nosso compatriota, que justifica a minha militante antipatia (e escuso de voltar a dizer-lhe sequer o nome).
Philip Roth tinha contras que obstavam a essa consagração, apesar de vender livros como pãezinhos: os seus romances contém doses generosas de sexo e numa perspetiva tão masculina, que as leitoras mais feministas não se poupavam nas acusações sobre a sua misoginia. Ademais, nos últimos anos, terá envelhecido mal, repetindo-se em personagens deprimidos pelos efeitos da andropausa, buscando solução, ora nas terapias psiquiátricas, ora nos relacionamentos amorosos com mulheres bastante mais novas. ´
Em «Humilhação», romance publicado há dez anos, o protagonista é Simon Axler, ator famoso, que se sente subitamente acometido da incapacidade de voltar a pisar os palcos. Abandonado pela mulher, que decide mudar-se para junto do filho na Califórnia, sente a tentação do suicídio. Mas, eis que conhece Pegeen, acabada de romper com a amante e decidida a mudar de vida  ao concorrer ao lugar de professora no Vermont.
Durante uns meses a  relação amorosa, que com ela cria, revela-se tão satisfatória, que Simon volta a acreditar nas suas capacidades, decidindo-se a aceitar o convite para protagonizar uma nova adaptação de «Longa Jornada para a Noite» de Eugene O’Neill. O otimismo cresce ao ponto de ponderar na possibilidade de submeter-se a um tratamento para engravidar a amante. Mas é breve fogacho na sua degenerescência, porque, tão-só abandonado por ela, não vê outra alternativa que não seja a de levar por diante o anterior projeto de se suicidar.
A Humilhação é um romance revelador de quem sente definitivamente perdido o seu fulgor sexual e sabe estultos os artifícios para o reencontrar.

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