segunda-feira, fevereiro 11, 2019

(DL) Erri de Luca e a via aberta mediterrânica


Quase desconhecido em Portugal Erri de Luca é dos escritores italianos, que mais aprecio. Esta manhã esteve na France Culture a pretexto das próximas eleições europeias e anotei algumas opiniões, que se revelaram pertinentes. Por exemplo a distinção entre populistas e nacionalistas, podendo-se dialogar com os primeiros, mas não com os segundos. “Na Europa há dinâmicas nacionalistas, mais do que populistas. Qualificá-las de populistas é dar-lhes uma importância, que não têm!”. E, de facto, se as esquerdas querem ser ouvidas e apoiadas por quem pretendem representar têm de saber ouvir os seus anseios e falar-lhes de modo a serem compreendidas. O que suscita uma clarificação entre o que pode ser um bom e um mau populismo...
Sobre o governo italiano diz-se convencido de, realmente, não existir: vêem-se sim duas formações políticas a formalmente monopolizarem-no em feroz concorrência uma com a outra numa campanha eleitoral permanente. Daí que preveja a probabilidade delas se dissociarem uma da outra logo após as europeias.
O problema é a inexistência de um rosto carismático para a esquerda italiana: os presidentes da Câmara de Nápoles ou de Palermo podem-no vir a ser, mas tardam em decidir-se quanto à passagem da sua dimensão local para a nacional. E é urgente, que o façam para infletirem uma dinâmica das direitas, que nenhum proveito trouxe a quem lhes possa servir de base social de apoio. Não será só a Itália a carecer de uma dinâmica contrária, que acabe com a imparável ascensão dos fascismos, porque toda a Europa precisa de se desperta do pesadelo em que vem sendo assombrada por fantasmas de outros tempos.
Luca confessa-se um napolitano europeu, identificando-se com o polvo que tem três corações. Como se comportasse em si batimentos por Nápoles, pelo Mediterrâneo e por essa Europa sem fronteiras, que ganhou em si ainda maior dimensão porque, através da tradução dos seus livros, se tornou efetivamente num autor do seu espaço plurinacional. Dito de outra forma: “Homero escreveu que o Mediterrâneo é uma via líquida pela qual circula a civilização. A Itália detém uma parte do património cultural da Humanidade, mas ele chegou-lhe pelo mar, como se viu com Nápoles, que foi fundada pelos gregos. Daí que o Mediterrâneo deva continuar a ser uma via líquida aberta”.
O que torna Erri de Luca um apoiante de todos quantos procuram evitar-lhe a condição de cemitério de quantos nele afogam as esperanças de encontrarem uma vida melhor.

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