quarta-feira, fevereiro 06, 2019

(AV) Uma França em estado de catástrofe


No próximo mês o fotógrafo Vincent Jarousseau irá publicar o seu novo álbum, intitulado »As raízes da cólera», que resulta das suas prolongadas estadias em Denain nos últimos dois anos  e explicativas da força conseguida pelo movimento dos coletes amarelos.
A realidade por ele constatada na comuna situada junto à fronteira belga é quase impensável para quem possui da França uma imagem muito diferente daquela em que se vem tornando nos últimos anos.  Um país onde, diariamente , vinte cinco pessoas suicidam-se por não encontrarem ânimo para prosseguirem o esforço pela sobrevivência.
Perdidos os empregos, outrora existentes nas indústrias, entretanto encerradas, e tendo-se tornado insustentável a exploração de pequenas unidades agropecuárias, há uma população envelhecida e com escassa formação académica, que não possui forma de se revelar resiliente perante a aceleração tecnológica. Os biscates e os empregos precários tornaram-se regra, as idas dominicais aos restaurantes tornaram-se distante recordação e gasta-se o tempo todo a congeminar todas as alternativas possíveis para arranjar algo de comer.
A cólera dos que andam a revoltar-se há várias semanas é a dos desesperados antes de se renderem á inevitabilidade da sua derrota social e profissional. Tanto mais que enfrentam um governo obsequioso dos mais ricos, sem qualquer interesse em facultar um escape credível para tão irremediável frustração.
As fotografias de Jarrousseau contam tantas estórias quantos os que lhe serviram de modelos e todas elas explicitam o irreversível estado de catástrofe em que hoje vivem tantos franceses.

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