quarta-feira, fevereiro 13, 2019

(DIM) A perversa censura na ilusória terra das liberdades


Kirby Dick rodou «Este Filme ainda não foi censurado» há uma dúzia de anos, mas ele mantém-se atual: existe uma forma de boicote ao cinema independente norte-americano, vedando-lhe o acesso à grande maioria das salas de todo o país mediante a facilidade com que os seus títulos são classificados NC-17, ou seja, proibidos a todos os menores dessa idade. Na «terra da liberdades», expressão hipócrita, que esconde muitas formas das grandes empresas cuidarem de anular os concorrentes, a MPAA, comissão criada para classificar os filmes, e durante mais de três décadas dirigida pelo sinistro Jack Valenti, foi um feudo onde houve a preocupação de exercer uma censura moral sobre os conteúdos mediante a alegação de ser constituída por pais dispostos a aferirem o que poderia ou não ser visto pelos filhos, facilitando simultaneamente  os esforços das seis maiores produtores norte-americanas em monopolizarem o mercado.
Exercendo a perversa atividade mediante a proteção da identidade dos seus membros - o que só demonstra a sua total falta de transparência - a comissão está umbilicalmente ligada a outra, que deve analisar e decidir os recursos sobre quem não concorda com as suas decisões.
Porque a Censura é sempre uma violação ao direito de quem cria filmes ou quaisquer outras formas de expressão artística, o documentário de Kirk Dick é bastante elucidativo como os censores preocupam-se com tudo quanto tenha a ver com o prazer sexual, sobretudo se for feminino ou entre parceiros do mesmo sexo, mostrando preocupação bem menor nos casos de violência extrema a que os adolescentes e as crianças são sujeitas em muitos dos filmes a que podem aceder sem restrições. E o facto de representantes das igrejas católicas e protestantes terem voto em tais comissões denota bem como a censura tem uma dependência religiosa, que só dá razão a quem há muito se convenceu da nocividade social e cultural dos prosélitos de Deus.

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