sexta-feira, maio 19, 2017

(S) O Concerto Brandeburguês nº 3, de J. S. Bach

A audição do Concerto Brandeburguês nº 3 em Sol maior, BWV 1048, constitui uma experiência encantatória para os ouvidos de tal forma demonstra a excelência do talento de Johann Sebastian Bach em desenvolver o conceito de ritornello concebido por Vivaldi e que ele transformou de forma assaz criativa.
No início do século XVIII Antonio Vivaldi surpreendera os compositores e músicos das cortes circundantes com a invenção do concerto em ritornello, em que a orquestra desenvolvia um tema melódico com início, meio e fim, até dar espaço ao solista, então convidado a fazer a ouvir a sua “voz” própria.
O que entusiasmou os apreciadores do compositor italiano foi a liberdade dada a esse solista, instado a improvisar, a dar mostras do seu discurso subjetivo.
Bach entusiasmou-se com a proposta vivaldiana, mas como todos os génios, apostou em subverte-la: quer põe o solista a intervir ainda durante o ritornello, quer este prolonga-se no seu desempenho individual.
A variedade e imprevisibilidade dos Concertos Brandeburgueses concebidos em 1718 e dedicados ao Margrave desse território, implicava que os instrumentistas nunca chegassem a colocar-se em modo pausa, porque a cada instante poderiam ser chamados a  participar na interpretação coletiva, como se mantivessem animado diálogo entre si.
No Concerto nº 3 cria-se uma geometria triangular  com três violinos,  três cordas e três violoncelos, que passam o primeiro andamento  (Allegro Moderato) a testar todas as combinações possíveis, ora cada trio a dialogar com os demais, ora um dos seus integrantes a sucessivamente desempenhar o papel de solista, ora um solista de um naipe a falar com o de outro. Por isso mesmo aponta-se este trecho como um dos que, na História da Música, melhor exemplifica a capacidade de interação entre os intérpretes. É esse o desafio que se coloca a quem o ouve atentamente, compreendendo como os diálogos vão passando de uns para os outros, como se se envolvessem em surpreendente debate.
A mesma lógica do jogo de combinações acontece no terceiro andamento (Allegro), que é uma espécie de giga enganadoramente a assemelhar-se a uma fuga. Pelo meio fica o misterioso e curtíssimo segundo andamento, um Adagio, que muitos estudiosos da obra de Bach apontam para um significado provável: entre o primeiro e o terceiro andamento dar-se-ia a oportunidade para que um ou mais intérpretes recorressem ao improviso e as escassas notas conhecidas da partitura mais não correspondessem senão ao típico final de um andamento lento.
Os onze minutos de duração deste Concerto são dos mais amados na admirável e vastíssima obra do compositor. Havendo muitas propostas na net, com interpretações muito distintas entre si, acolho a da Orquestra Barroca de Friburgo como uma das que melhor se identificam com as aparentes intenções do compositor.


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