domingo, maio 07, 2017

(DL) A viagem de Mark Twain à Alemanha (I)

Em 1878 Mark Twain decidiu viajar para a Alemanha, quando a fama já o bafejava pois publicara «Tom Sawyer» dois anos antes, e conhecera com ele um prodigioso sucesso.
Não tivesse outros motivos para o fazer e facilmente sairia dos Estados Unidos, porque estava mais do que convencido que outras paisagens permitiam vencer preconceitos e outras manifestações de estreiteza de perspetivas sobre a realidade. Mas existira outro motivo de força maior para apanhar o vapor para Hamburgo: crivado de dívidas, tinha os credores á perna a exigirem-lhe o que lhe haviam emprestado. É que, péssimo investidor, ele era useiro e vezeiro em investir dinheiro em negócios sem futuro.
Enquanto se divertia com as vicissitudes da travessia marítima Twain pensava na forma de rentabilizar a viagem e decidiu escrever uma aventura pitoresca das suas iminentes viagens a pé pela Alemanha acompanhado de Harris, um solícito guia, que contrataria tão-só lá chegasse.
É óbvio que dar-se ao trabalho de dar cordas aos sapatos não figurava nos seus planos, tanto mais que não viera sozinho: a família acompanhara-o para se livrar das pressões dos perseguidores e dando-lhe o conforto e o afeto, que não dispensava.
O livro de viagens intitulado «A Tramp Abroad» seria publicado em 1780 e constituiria um novo sucesso literário, ou ele não tivesse descrito a Alemanha à medida do que os leitores desejariam encontrar. Mas não lhe fora fácil encontrar a inspiração: até chegarem a  Heidelberga inquietou-se com a impossibilidade de escrever uma linha que fosse. Mas, nas margens do rio, que atravessa a cidade, descobriu o personagem para um romance, que daria continuação ao anterior: Huckleberry Finn.
Para o diário de viagens imaginou uma tormentosa viagem de jangada, temática que reproduziria igualmente no romance seguinte, transferindo-a para o Mississípi.
Fora junto a outro rio, o Missouri, que nascera em 30 de novembro de 1835, quando o cometa Halley alvoraçava os corações de familiares e conhecidos, com o intenso brilho nos céus.
Aos onze anos Samuel Clemens (o seu verdadeiro nome) ficou órfão do pai e teve de começar a colaborar no orçamento familiar com o seu exíguo salário.
Aos 24 anos tirou o curso de piloto nos barcos do Mississipi após dois anos de curso, mas acabou por não singrar nessa profissão, pois tornara-se jornalista.  Data de então a escolha do pseudónimo, que significa «duas braças de profundidade» na codificada linguagem dos barqueiros do rio.
Em «A Tramp Abroad» acaba por inserir as suas memórias pessoais no episódio quase inicial em que o narrador e Harris abandonam a jangada em que tinham decidido avançar na direção de jusante para escolherem a bem mais tranquila opção da caminhada. E vai descrevendo os lugares e as pessoas envolvendo-as na música de «Lorelei», canção popular que o poeta Heinrich Heine verteria para inglês.
A prosa esmiuça os castelos e as casas das quintas, aproveitando para as alindar com as lendas e mitos, que alimentavam as idiossincrasias de cada um desses edifícios.

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