terça-feira, maio 09, 2017

(DIM) «Topázio»: o contexto e as dificuldades da rodagem

Na quinta-feira, 11 de maio, o Cineclube Gandaia da Costa da Caparica prosseguirá o ciclo dedicado a Hitchcock com o seu antepenúltimo filme: «Topázio». Rodado em 1969, procura escapar ao habitual maniqueísmo das produções do género nessa década.

Foi um dos momentos críticos na História mundial dos anos 60: entre 16 e 28 de outubro de 1962, o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear, quando a Crise dos Mísseis colocou, frente-a-frente a ousadia de Khruschev e a inexperiência de John Kennedy.
Vale a pena lembrar que, no ano anterior, um grupo de anticastristas falhou clamorosamente a invasão de Cuba pondo em cheque a Administração recém-eleita. Sentindo-se ameaçado pelo incómodo vizinho, que dava sinais de não tolerar a sua revolução, Castro anuíra a ter no seu território os mísseis enviados pela União Soviética para os direcionar para onde provinha a ameaça.
É esse o contexto em que se passa o romance, publicado em 1967 e assinado por Leon Uris, um escritor norte-americano cioso da sua identidade judaica e, como tal, sempre disposto a criar best-sellers com objetivos confessadamente políticos, quer para defender o sionismo israelita, quer para defender a perspetiva imperialista em contexto de Guerra Fria.
Uris assumiu que se baseou na história contada por um espião seu amigo, que desempenhara papel relevante na dissolução de uma antena do KGB em França.´
Ao realizar o filme Hitchcock voltava a incomodar muitos dos seus entusiastas, que lhe tinham admirado a destreza para criar intensas cenas de suspense, mas o via então a realizar filmes ideologicamente bastante conotados.  Foi esse precisamente o principal motivo do desentendimento de Hitchcock com Leon Uris, que contratara para elaborar o argumento a partir do próprio romance. Se este último não simpatizava com a ideia do Mestre em pretender a inserção de alguns apontamentos de humor no filme,  o que acabou por criar a rutura entre os dois foi a firmeza com que Hitchcock quis impor um perfil mais humanizado para os vilões do romance. A exemplo do sucedido em «Cortina Rasgada», o realizador não estava disposto a dividir os personagens entre os heróis e os vilões, dado uns e outros prosseguirem objetivos comuns quanto à defesa dos seus ideais.
À pressa Hitchcock recorreu em vão a Arthur Laurents para  pegar no trabalho incompleto deixado por Uris.  Acabou por solicitar a colaboração de Samuel Taylor, que com ele trabalhara no argumento de «Vertigo», e chegou ao local das filmagens, quando estas estavam iminentes. Daí que muitas das cenas tenham sido rodadas escassas horas depois de escritas. É essa a explicação para a sensação de fragilidade nos diálogos e na estrutura da própria intriga. Outro dos motivos para os críticos não terem mostrado particular agrado tem a ver com a ausência de um qualquer grande nome de Hollywood: após a turbulenta relação com Paul Newman na rodagem do filme anterior, Hitch estava decidido a não repetir o erro. Sobretudo depois de ver falhada a possibilidade de ter Sean Connery no papel de Andre e Catherine Deneuve no da sua esposa.
Pese embora esses aspetos mais problemáticos, «Topázio» não deixa de ser um bom entretenimento feito com a inteligência, que o seu autor nunca deixou de revelar.

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