quarta-feira, maio 10, 2017

(DIM) «Topázio»: a dificuldade de consensualizar um final

«Topázio» começa em Copenhaga em 1962, quando a CIA recebe a informação de um desertor soviético em como mísseis com ogivas nucleares estariam prestes a serem instalados em Cuba. Carecido de provas físicas, Nordstrom recorre à ajuda de uma gente francês, Andre Devereaux para que, mediante suborno de um funcionário cubano na ONU, se consigam fotografias de documentos comprovativos da denúncia de Kusenov.
Graças a essa interessada colaboração, o haitiano Dubois, que trabalha com Devereaux, consegue introduzir-se no quarto de hotel onde está alojado um importante diplomata, e passar-lhe a câmara com as provas, escapando-se à perseguição movida pelos seguranças do regime castrista.
A escala seguinte do francês é Cuba, onde o espera a amante, Juanita de Córdoba, viúva de um dos heróis da Revolução, mas também envolvida sentimentalmente num triângulo, que tem o outro vértice no diplomata espiado em Nova Iorque. Será ela, ou melhor os seus criados, quem propiciam a Devereaux as fotografias dos mísseis, mesmo acabando por ser capturados.
Devereaux consegue sair de Cuba com os almejados microfilmes e, já em Paris, fica a saber por Kusenov a existência de «Topázio», uma rede de espionagem soviética dentro da administração francesa. Um oficial na NATO, Henri Jarré, teria já conseguido passar documentos para a KGB, mas não tarda a aparecer morto em aparente suicídio. Aprofundando a investigação, o agente francês não tarda a descobrir ligações mais do que comprometedoras na sua própria família….
 A exemplo dos filmes anteriores, Hitchcock pretendia fazer uma experiência cromática: testar a possibilidade de, através das cores predominantemente vermelhas, amarelas e brancas, indiciar a evolução do enredo. Mais tarde reconheceria não ter-se sentido agradado com os resultados.
O final também não teve a ver com o pretendido inicialmente pelo realizador. Forçado a regressar aos Estados Unidos para acorrer a uma emergência familiar, já não o controlou, tendo os produtores decidido um duelo final entre Devereaux e o chefe da rede russa num estádio de futebol.
Insatisfeito com o resultado, Hitchcock remontou esse final de modo a possibilitar a fuga do espião para Moscovo. Mas logo lhe saltaram em cima os produtores, que temeram na impunidade do espião, a reação negativa do governo francês.
Numa atitude de compromisso, Hitchcock optou por uma terceira alternativa - o suicídio de Granville sugerido pelo som off de uma cena em que ele acaba de ser expulso de uma reunião da NATO -, mesmo não tendo rodado nenhuma cena que o explicitasse.
Tornou-se numa das curiosidades de algumas exibições especiais essa apresentação alternativa dos três finais para que os espectadores os pudessem comparar na sua credibilidade.
Uma referência final para a habitual assinatura de Hitchcock: desta feita ele aparece por volta da meia-hora do filme, sentado numa cadeira de rodas e empurrado por uma enfermeira. Até que põe-se de pé para cumprimentar alguém antes de desaparecer de cena.

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