terça-feira, janeiro 03, 2017

(DIM) Quando a prisão transforma um inocente num perigoso delinquente

Uma das séries que mais me agradaram em 2016 foi a que Richard Price escreveu, Steve Zaillian dirigiu e a que deram o nome de «The Night Of».
Inicialmente deveria ser protagonizada por James Gandolfini mas, ainda na fase de pré-produção, ele morreu subitamente, deixando os autores com o problema de encontrarem quem melhor se ajustasse ao papel do advogado John Stone.
A hipótese de Robert De Niro foi ponderada durante uns bons meses, mas dificuldades de agenda também o descartaram. E ainda bem, porque não imagino melhor alternativa para esse papel que não John Turturro. Ele é ideal para dar carácter a esse personagem meio marginal, sempre a sofrer com as alergias, que lhe alastram chagas sangrentas pelos pés, e tendo sempre como estratégia a obtenção dos melhores acordos possíveis para os seus clientes - normalmente drogados, prostitutas e quase inexperientes ladrões - porque só a ideia de ter de argumentar na barra do tribunal a suposta inocência do réu é motivo para lhe suscitar ataque ainda mais virulento do seu mal.
Uma noite vê na esquadra o jovem Nazir, de origem paquistanesa, acusado de homicídio da jovem com quem fizera sexo e encontrara morta com 22 punhaladas quando acordara na cozinha do apartamento e fora ao quarto para dela se despedir. Perante a sensação de se tratar de um inocente impulsionara-o a cuidar da sua defesa, apesar dos indícios recolhidos pelo detetive Box. Havia testemunhas a reiterarem tê-lo visto com Andrea a entrarem no apartamento dela e num dos seus bolsos encontrara-se a faca ensanguentada com que a teria matado.
O próprio Nazir não consegue lembrar-se de nada entre o momento em que estivera a ter sexo com a assassinada e o momento em que despertara na cozinha. As drogas que Andrea lhe tinha proporcionado haviam-no posto completamente inconsciente.
A história, porém, complexifica-se em várias direções: na cadeia Nazir consegue a proteção de um dos mais influentes colegas, que vai, pouco a pouco, transformá-lo ao ponto de nenhuma semelhança existir entre o jovem estudioso do início e o delinquente solto no final como inocente. Há também a discriminação contra os muçulmanos a pretexto da campanha de ódio alimentada por jornais e televisões a pretexto do que supostamente sucedera, e que provoca o despedimento da mãe de Nazir do emprego e a perda do táxi pelo pai. Há também a jovem advogada, que se apaixona indevidamente pelo réu e por isso comete faltas irreparáveis para continuar aceite na profissão. Ou o incrível gato, que só por si, ajuda a definir maravilhosamente a personalidade de Stone.
As notícias dão como possível uma segunda temporada. Esperemos que ela equivalha em qualidade a demonstrada nestes oito primeiros episódios.
 


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