sexta-feira, outubro 14, 2016

(L) As cartas que revelam a verdadeira face de Heidegger

Uma das curiosidades que me ficaram dos anos 60 foi o fascínio de muitos intelectuais franceses por gente, que tinha sido cúmplice da ideologia e da ocupação nazi na primeira metade da década de 60. Ver Truffaut ir à prisão acompanhar a libertação de um dos mais abjetos colaboracionistas do governo de Vichy ou Louis Malle rodar «Feu Follet», baseado num romance de Drieu de la Rochelle, mostra bem a confusão ideológica de uma geração, que depois não desdenharia namorar o maoísmo, como aconteceu com Jean Luc Godard.
Mas esses são também os anos em que se elogia Céline como um génio da literatura ou se enfatiza Heidegger como um dos grandes filósofos do século XX. Ora, como digo e repito, as obras não podem ser dissociadas de quem as assina: não é por estarem talentosamente bem escritas ou superiormente estruturadas, que as histórias e as ideias de biltres deixam de ser o produto de mentes criminosas.
Mas os defensores de Heidegger foram tratando de subestimar a colaboração do filósofo com o regime nazi, tentando-o apresentar como alguém que não se interessava pela política e dedicava todo o seu esforço intelectual às grandes questões ontológicas. Como se não devêssemos exigir aos artistas e aos filósofos, que saiam dos seus egos e se assumam como protagonistas de uma realidade dinâmica, cuja transformação podem ajudar a desviar numa ou noutra direção!
Agora dificilmente poderão negar a evidência facultada por estas cartas escritas por Martin ao irmão no período entre a ascensão do partido nazi e a sua calamitosa derrota com o suicídio do seu líder no bunker berlinense.
Para além do entusiasmo desmedido pela arianização da Alemanha e a subjugação dos judeus, ele procura que, a seu exemplo, Fritz se comprometa com o partido nazi.
Quem pode continuar a negar uma evidência, que fica explicita nas palavras redigidas pelo próprio?


(Heidegger sentado à direita num comício nazi)

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