quarta-feira, setembro 16, 2015

LEITURAS RETARDADAS: João Magueijo, John Nash, Jonathan Franzen, Mathieu Croissandreau e Jeremy Corbyn

1. Num artigo recente da revista «Visão», João Magueijo abordava a estranheza de muitos génios científicos terem comportamentos que tenderíamos a considerar como mais ou menos desviados em relação aos padrões normais. Como se as descobertas na Matemática ou na Física não se coadunassem com uma visão padronizada da realidade e carecesse dessa diferença para se exprimir de forma inovadora.
De entre os muitos exemplos referidos por Magueijo ressalta o do seu encontro num elevador com um estranho, que se pusera a olhá-lo fixamente durante longos minutos.
Desagradado com a experiência, que chegara a sentir como ameaçadora, Magueijo quis saber quem era aquele lunático. Logo o esclareceram: tratava-se de John Nash, o Prémio Nobel do ano anterior, que vira personificado por Russell Crowe num filme de referência sobre a sua teoria dos jogos.
O texto de Magueijo é uma boa demonstração sobre os juízos apressados que tantas vezes tendemos a formular a respeito de quem nos parece tão diferente do costume…
2. Aos 56 anos de idade, Jonathan Franzen é considerado o grande romancista americano, com títulos como «Correções» (2001) e «Liberdade» (2010).
Stephen Amidon escreveu agora um texto sobre a publicação do quinto romance do autor, «Purity», que foi assim lido pelo crítico: “Há um homicídio, a busca de uma filha pelo pai, computadores pirateados, uma arma nuclear em parte incerta ou um casamento tóxico.”
O que mais atiça a nossa curiosidade nos seus livros são as indignações a respeito de o Google ter um registo completo de tudo o que pesquisámos nos últimos oito anos ou de serem guardados pela NSA todos os dados das comunicações, que fizemos.
Vivemos num mundo em que somos permanentemente vigiados e Franzen faz-se arauto das nossas inquietações para com tal realidade…

3. No “L’Obs” surge uma crónica de Mathieu Croissandreau em que ele constata o paradoxo de defendermos a liberdade de circulação de mercadorias e serviços e, depois, colocarmos muros e exércitos a impedir a livre circulação das pessoas. Tanto mais que elas foram protagonistas de esforços épicos ao percorrerem milhares de quilómetros e venceram perigos inconfessáveis desde as suas terras até ao prometido El Dorado.  Tendo como único objetivo o conseguirem sobreviver…
Hoje existem 60 milhões de deslocados nas zonas do conflito, do Próximo ao Médio Oriente, do Afeganistão à Ucrânia. E é bem provável já estarem em preparação novos fluxos migratórios…
4. O susto que vai por essa Europa a respeito da chegada de Jeremy Corbyn à liderança do Partido Trabalhista inglês.
Blair previu o fim do histórico partido operário britânico e Cameron já o considera uma ameaça à Segurança Nacional.
Eu que sou um inveterado otimista, vejo nessa eleição - a par do Syriza ou do Podemos - a consagração de novas formas de fazer política, que sacudam a cinzentude letárgica da máquina burocrática de todos os membros da União Europeia. E o pré-anúncio de uma esquerda emergente, que rejeite o sentimento de vergonha por ser socialista, tanto mais que o capitalismo austeritário dá sinais de não conseguir o relançamento do crescimento económico sem o qual já lhe podemos encomendar a extrema-unção...

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