segunda-feira, setembro 28, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: A nostalgia da família perdida

Na Revista do «Público» deste domingo a jornalista Anabela Mota Ribeiro entrevista uma senhora de 78 anos, que acaba de publicar o seu livro de memórias: «Árvore com Asas, Passarinho com Raízes».
Quando lemos testemunhos de pessoas, que sentiram na pele a ameaça nazi, preparamo-nos para o pior. Felizmente Eva Raimann Cabral - é assim que ela se chama - não conheceu uma tragédia pessoal muito dolorosa, mesmo perdendo trinta e três familiares do ramo paterno nos campos de concentração.
O momento decisivo foi quando, na sequência do Anschluss, o pai foi despedido da empresa farmacêutica onde tinha uma vida profissional estabilizada, devido às origens judaicas, cujos ritos religiosos nem sequer cumpria.
Através da Holanda, a família embarcou para a América do Sul, radicando-se em La Paz durante uns anos, até a violência política os pressionar a mudarem-se para Fortaleza, no Brasil.
Por essa altura já a família Raimann se tinha disseminado por mais de doze países, sem pensar em regressar a Viena, que em nada correspondia à vibrante cidade anterior a 1938.
Casando-se com um português, que lhe deu o apelido Cabral, Eva tem sentido a vontade de restabelecer as memórias familiares como forma de as transmitir aos netos em quem sente a curiosidade pelos que os antecederam na árvore genealógica.
O livro não espelhará, pois, grandes emoções por muito que as dificuldades de adaptação tenham sido significativas, sobretudo na chegada à capital andina, onde desconheciam inteiramente a língua, a cultura e o clima. Mas constitui um verdadeiro manifesto de amor de Eva pelos antepassados e por aqueles que virão!

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