quarta-feira, setembro 02, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: Rever «Arena», enquanto nos não chega «Montanha»

Há seis anos conhecemos, pela primeira vez o cinema de João Salaviza através da curta-metragem «Arena», então premiado com a Palma de Ouro em Cannes.
Agora que está a apresentar «Montanha», a sua primeira-longa metragem no Festival de Veneza, vale a pena recordar esse primeiro título da filmografia do realizador, que integraria a seguir duas outras curtas - «Cerro Negro» (2011) e «Rafa» (2012) - que consolidariam a tendência para assumir como seu tema preferencial “a viagem da escuridão para a luz, dos quartos para o exterior— a abertura para outros horizontes  como outras tantas hipóteses de fechamento para as personagens de adolescentes que se descobrem adultos”.
Numa entrevista concedida a Vasco Câmara do «Público» este filho da classe média, hoje com 31 anos, confessa como espreitava da janela “a ver de longe os rufias que o assustavam e fascinavam, com enorme vontade de descer até à rua e de lhes apertar a mão.”
Depois de quatro filmes com personagens adolescentes ele reconhece-se no final de um ciclo de que «A Montanha» mais não é do que o corolário lógico, e mais complexo, do que abordara nos títulos anteriores.
 O crítico e entrevistador constata que “a luz continua a agredir em Montanha. Por isso as personagens — uma hipótese de triângulo amoroso, em que um dos vértices, o jovem interpretado por David Mourato, é personagem em crise: mãe ausente, morte iminente do avô... — transportam consigo a escuridão.”
Pessoalmente incomoda-me a intenção de Salaviza em omitir o retrato sociológico da realidade, que aborda. Mesmo reconhecendo-se nado e criado numa família de esquerda. Para o seu protagonista as respostas às inquietações não passam pela transformação do que se passa à sua volta: “Há uma ideia quase religiosa: eles [os personagens] propõem a salvação através da intimidade. Fiquei fascinado por fazer um filme que se passa em vãos de escada, em camas desfeitas, com mesas com a louça do dia anterior.”
Dado ainda não nos estar disponibilizado este filme mais recente retomemos, então, aquele que nos fez conhecê-lo. 

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