quinta-feira, setembro 24, 2015

ESTÓRIAS DA HISTÓRIA: Gertrude Caton-Thompson e o Grande Zimbabwe (2)

Em 1929, quando todo o Ocidente estava a viver os apertos da Grande Depressão, a arqueóloga inglesa Gertrude Caton-Thompson chegou a Salisbúria para tirar a limpo qual seria a origem das ruínas conhecidas por Grande Zimbabwe já descobertas pelo alemão Karl Mauch em 1867.
Em apenas quarenta anos de ocupação os colonos rodesianos tinham criado uma comunidade muito dinâmica em que os brancos dirigiam as fazendas e as minas e os negros estavam remetidos para trabalhos serviçais, vivendo em alojamentos insalubres sem qualquer acesso à educação.
O preconceito de superioridade branca já estava tão enraizado que era evidente em todas as vertentes da vida social.
Quando uma mulher branca pediu a Gertrude que integrasse um filho na sua equipa arqueológica, ela acedeu conquanto acedesse a participar nas escavações ao lado dos trabalhadores de cor. Como esperava, Gertrude logo viu retirado o pedido.
Um dia, durante um jantar, o governador defendeu a ideia de as ruínas do Grande Zimbabwe possuírem uma origem antiga, e portanto branca. Mas Gertrude retorquiu-lhe que o seu trabalho seria ditado pela objetividade.
A equipa de que ela se fez acompanhar era reveladora da determinação em romper com as convenções, porque constituída em grande parte por mulheres. Daí que Gertrude seja vista como uma das primeiras arqueólogas abertamente feministas.
Nos primeiros dias a equipa inspecionou quilómetros de ruínas deixando Gertrude perplexa com o que anteriores visitantes tinham feito: gerações de caçadores de tesouros tinham praticamente exposto tudo o que restara, tornando duvidosa o sucesso da expedição.
O Grande Zimbabwe tinha-se transfigurado nos sessenta anos anteriores. Muita gente imaginara ali encontrar ouro, pelo que pilhara, saqueara e deitara paredes abaixo para abrir túneis debaixo das muralhas.
Os muitos artefactos arqueológicos assim destruídos tinham um valor incalculável. O próprio Cecil Rhodes cuidara de levar dois pássaros em pedra para marcar a entrada da sua propriedade e contratara gente sem competências para encontrar provas de ali ter existido uma civilização branca. É claro que movimentaram toneladas da camada superficial do solo sem nada encontrarem nesse sentido.
A devastação das ruínas deixou Gertrude num aparente beco sem saída, apesar de diversas escavações em zonas diferentes das ruínas e dos bónus pagos aos trabalhadores para os compensar das horas extraordinárias.
O tempo estava a chegar ao fim e aproximava-se a data da reunião com quem a contratara - a British Association. Razão para, em  desespero de causa, recorrer a um avião para observar toda a região a partir de uma perspetiva até então desconhecida.
Conseguiu, assim, localizar um caminho invisível a partir do solo, porque estava imerso na vegetação. E que não era utilizado há séculos... 

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