sexta-feira, setembro 11, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: Uma sociedade sem crescimento?

Daniel Cohen é um reputado economista francês, professor na prestigiada École Normale Supérieur e autor de dois ensaios de referência: «A Prosperidade do Vício» e «Homo Economicus».
Na semana passada ele publicou um novo ensaio com um título mais do que inspirado: «Le Monde Est Clos et le Désir est Infini». O que significa vivermos num mundo fechado, mas onde os desejos são infinitos.
Numa entrevista ao «L’Obs»  ele confessa ter-se baseado num título semelhante de Alexandre Koyré em que o filósofo, desaparecido nos anos sessenta, refletia sobre a evolução do mundo fechado, concetualizado na Antiguidade e na Idade Média, para o universo infinito anunciado por Galileu e traduzido na imposição da ideia de progresso e na negação mais ou menos explicita da existência de Deus.
Descartes anunciava, então, a capacidade do Homem em dominar e fazer sua a Natureza.
Essa perceção durou até ao fim dos Trinta Anos Gloriosos, quando começou a verificar-se o declínio do degenerescente mundo industrial. Sabíamo-nos num pequeno planeta na periferia de um universo sem fim e com uma Revolução Industrial a impulsionar a ideia de crescimento perpétuo. As sociedades humanas tenderiam a potenciar a acelerada aquisição de conhecimentos na criação de riqueza em progressão quase exponencial, capaz de fazer-nos crer que cada geração viveria sempre melhor do que a anterior. E, sobretudo, em Democracia, regime que permitiria a cada cidadão evoluir na escala social.
Ora, pelo contrário, os anos mais recentes trouxeram às nossas sociedades ocidentais as consequências de sucessivas recessões ou, na melhor das hipóteses, de crescimentos medíocres da economia. Hoje deparamo-nos com um mundo, que sentimos cada vez mais exíguo.  Para Cohen essa consciência da limitação dos recursos disponíveis, está a suscitar um impacto tão radical quanto o da revolução imposta por Galileu. E traduz-se em efeitos que vão da angústia à nostalgia pelo passado, e frequentemente à xenofobia.
Para o autor é-nos exigido um esforço cultural e filosófico para aceitarmos a pequenez deste mundo saturado pela presença humana: “Em três séculos, alcançámos um nível de rendimentos por habitante, que decuplicou em relação ao auferido após a revolução agrícola. Mas bastou que o crescimento estagnasse para ver a sociedade acometida de uma dúvida quase metafísica: ‘Isto deixou de funcionar!’. Os dirigentes políticos são obrigados a prometer o regresso ao crescimento sob pena de serem atirados para o caixote do lixo. Se o crescimento não for retomado, isso equivalerá a uma segunda morte de Deus!”
Hoje vivemos a repetição do clima das guerras religiosas, com crentes para um lado e heréticos para o outro. Os pessimistas, que descreem da possibilidade de reencontrarmos o crescimento económico, inspiram-se nas ideias de Robert Gordon para quem a revolução digital só trouxe como novidade o fascínio por alguns gadgets: os smartphones, as tablets e, em breve, os frigoríficos diretamente ligados ao supermercado.
Em menos de dez anos todas essas invenções conquistaram as nossas sociedades, cujos membros quase os passaram a sentir como indispensáveis. Mas Gordon alerta para o facto de tal revolução não criar o impacto económico equivalente ao da utilização intensiva dos recursos petrolíferos e da eletricidade.
Pelo contrário, os otimistas anunciam um homem novo melhorado pela genética, pela inteligência artificial , pela robótica e pelas nanotecnologias. Com a internet, com as redes sociais e com os motores de pesquisa o mundo conheceu uma evolução abrupta. A informação tornou-se abundante e disponível, mas os índices de crescimento económico foram-se retraindo.
“Estamos comprometidos no que designo como uma revolução industrial sem crescimento. O processo de digitalização da sociedade não conhece limites e todas as tarefas estão ameaçadas. Um dos meus alunos no curso de Informática dizia-me: ‘se repete a forma de fazer o mesmo trabalho, justifica-se que pensemos no programa capaz de o executar.’ A diferença fundamental com a precedente revolução industrial está nesta constatação: o software executa as tarefas e condena ao desemprego os que o faziam.” E não há forma possível de recuperar o volume de trabalho anteriormente existente.

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