sábado, setembro 05, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «Os Extremos» de Christopher Priest (4)

Estamos a chegar ao fim do romance de Christopher Priest, que tem por tema as vicissitudes de uma agente do FBI, quando tenta buscar explicação sobre a morte do conjugue a muitos milhares de quilómetros da pequena cidade texana onde ele fora alvejado.
Em Bulverton, na Inglaterra, ela encontrou estranhas coincidências entre o sucedido com Andy e um caso de homicídio ali verificado no mesmo dia do ano anterior. Por isso, recorrendo à ExEx, empresa, que proporciona experiências virtuais de crimes, como se eles pusessem voltar a ser revividos, ela conseguiu entrar na cabeça do criminoso. Mas se tinha alguma ilusão em fazer recuar o tempo até ao momento anterior em que ele começara a disparar aleatoriamente contra as suas vítimas, depressa concluiria ser impossível: “Grove era um obsessivo, um maníaco capaz de se concentrar numa coisa a qualquer momento. (…) Concentrado num só objetivo como estava, já não era possível influenciá-lo ou distrai-lo. Teresa, uma passageira na mente dele, estava entregue a um mundo de apreensão, nojo e preocupação à medida que Grove  tomava conta do cenário”. (…) “Grove tinha sido impelido não pelo ódio, não pela cólera, nem mesmo pela loucura, era pura e simples determinação concentrada.
Só no final, quando a sua obsessão começou a diminuir, é que ficou menos fixado, foi nessa altura que foi cercado pela polícia e que a sua fúria assassina chegou ao fim.” (pág. 268)
As surpresas irão ser ainda maiores quando Teresa sai do edifício da ExEx: “ esta não era a realidade que tinha deixado. Agora estava no verão; nas ruas da cidade as pessoas deviam conduzir com as janelas abertas, com os tetos de abrir puxados e com a ventoinhas de arrefecimento ineficazmente ligadas. (…) Um sol assim não havia no Inverno britânico, onde ela tinha acordado, guiado o carro, corrido, sacudido o blusão, ainda mesmo nessa manhã”. (pág. 275)
Sem conseguir compreender como, Teresa vê-se no cenário em que Grove não tardaria a cometer os seus crimes. Por isso, volta a entrar na ExEx e tenta retomar a experiência virtual.  É aí que voltará a encontrar Andy ainda vivo, ameaçado por um psicopata chamado Aronwitz, que não é senão uma réplica idêntica do Grove que, estava simultaneamente a matara milhares de quilómetros daquele cenário texano.
Ela consegue intrometer-se no fio condutor da história, salvando o marido, mas o preço de tal bravata será o de ficar definitivamente enclausurada com ele naquele cenário virtual.
Ao fecharmos o livro, lida a última página, ficam questões pertinentes sobre as fronteiras do mundo virtual, que os computadores nos facultaram. E até que ponto não estaremos em vias de, a exemplo das drogas duras, arriscarmos a negação da realidade por outra inteiramente fabricada?

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