domingo, junho 08, 2014

TEATRO. «O Capital» de Sylvain Creuzevault

«O Capital» é a mais recente peça criada por Sylvain Creuzevault para vir a ser estreada em Setembro no Festival de l’Automne em Paris.
O que os espectadores do Festival Alkantara puderam ver neste fim-de-semana na Culturgest foi mais uma das várias versões de combate com que o elenco da peça tem apresentado em vários palcos europeus como se se tratassem de ensaios gerais do que virá a ser a apresentação oficial. Por isso mesmo o encenador tem optado por versões de duas a três horas, com o palco lisboeta contemplado com uma alternativa de duas horas e meia.
Trata-se, pois, de uma criação em progresso e, por isso mesmo, ainda transmite a ideia de algum desequilíbrio na forma como tenta revisitar os conceitos fundamentais do marxismo sem os deixar de interligar com os da psicanálise ou os da conceção brechtiana da representação.
Enquanto espectador pode-me parecer irónico, que se opere uma abordagem sobre o marxismo e os socialistas utópicos no bunker da Caixa Geral de Depósitos da av. João XXI, que ilustra na perfeição o símbolo do capitalismo no seu fulgor. Mas para além da pitoresca descrição das querelas dentro de um grupo de revolucionários no período da efémera vitória republicana de 1848 em Paris, a explicação sobre o que é a mercadoria, a mais-valia, a alienação consumista e outros conceitos fundamentais para enquadrar a supremacia capitalista nas nossas sociedades prolonga-se demasiado, tornando o espetáculo fastidioso. É que Sylvain Creuzevault segue a regra tão francesa de virar sucessivamente uma tese do direito e do avesso até acabar demonstrada ou desmentida.
Ainda assim ele consegue ser contundente quando explica com insuperável simplicidade o papel de escravo desempenhado pelo assalariado dos nossos dias, disponível para servir de negreiro de si mesmo. E há toda uma criação plástica, que difere de tudo quanto andamos acostumados a ver nos palcos nacionais. Razão para ter dado o tempo e o custo do bilhete como bem empregues!!!


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