Ao sexto romance a escritora norte-americana Siri Hustvedt imita Orson Welles que, em «O Mundo a Seus Pés», investigara quem fora o já falecido Charles Foster Kane. Neste romance procuram-se os sinais da existência de Harriet Burden, uma artista plástica dos anos 20 que, farta de ser desvalorizada por causa da sua condição de mulher, decide vingar-se do preconceituoso meio cultural nova iorquino e programa três exposições distintas das suas obras, mas apresentando-as como da autoria de três homens o mais dissemelhantes possível entre si: o jovem prodígio Anton Tish, o “míope, mulato e estranho” Phineas Eldridge e o narcisista Rune.
A exemplo do célebre filme de Welles temos um investigador - neste caso um professor universitário - que vai à procura de Harriet recorrendo a uma vasta coleção de entrevistas, ensaios, artigos e cartas. E o resultado é mais um libelo da autora contra a discriminação suscitada por razões de género. Por isso mesmo o primeiro parágrafo do livro é elucidativo quanto às suas intenções: “Todo o trabalho intelectual e artístico tem mais sucesso na mente da multidão, quando a multidão sabe que, algures por detrás da grande obra, ou do grande embuste, se encontra uma pila e um par de tomates”.
E, de facto, olhando para a História da Arte Ocidental quantas pintoras conhecemos comparativamente com os seus confrades masculinos? Sobretudo se nos cingirmos aos que criaram as suas obras antes do início do século XX?
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