Embora esteja publicado em português, Jean Échenoz é quase um desconhecido entre nós. E, no entanto, não seria difícil suscitar agrado com um desses romances onde acompanhamos a forma como Maurice Ravel vai tendo consciência da irreversível demência, que o distancia de quanto acumulara na memória.
É verdade que a sua prosa tem uma sonoridade em francês, difícil de reproduzir na tradução, mas a forma depurada como desenvolve os seus temas em romances pouco maiores do que contos longos, constitui um estilo facilmente a ele associável.
A obra mais recente, «Caprice de la Reine» acaba de surgir e contém novelas sobre um general, uma rainha, a Flórida e Heródoto. Mas, até por estarmos em ano de centenário, faz todo o sentido recordar o seu «14» em que aborda os acontecimentos de então a partir de uma pequena aldeia francesa, enfatizando a fadiga, os pequenos prazeres dos soldados, os prazeres mais irreprimidos e o crescente pânico.
Numa entrevista recente ele reconhece a importância da influência do cinema na forma como escreve: “como enquadrar a imagem, a técnica da montagem e a utilização dos diversos formatos para que as descrições sejam tão visuais e acústicas quanto possível. Tanto quanto seja capaz, tento escrever num estilo audiovisual!”.
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