(a propósito do documentário «Os últimos segredos dos guerreiros de terracota»
de Ian Bremner)
O Exército de Terracota enterrado com o primeiro imperador da China Qin Shi Huangdi foi descoberto em 1974.
Nesse verão a canícula estava particularmente intensa na região de Xian. Ao tentarem perfurar o solo em busca de novos poços, alguns camponeses deram com restos de objetos de argila. Seriam vasos de eras passadas? Depressa se concluiu não ser o caso, já que se podiam identificar braços, pedaços de armaduras e, desde então, milhares de guerreiros em tamanho natural.
Construídas no século III a.C., essas nove mil estátuas de guerreiros de infantaria e de cavalaria, com os respetivos cavalos, carros e armas, deveriam assegurar a proteção do soberano no Além e ajudá-lo aí a prosseguir o seu reinado. Mas também apareceriam funcionários, acrobatas, lutadores e concubinas, igualmente imprescindíveis à viabilização do reino a que ele acedera e que ampliaria até quase às dimensões do atual território chinês graças a sucessivas guerras de conquista dos territórios vizinhos.
Até agora já foram restauradas e reposicionadas cerca de mil estátuas, mas a maior parte da área do mausoléu continua soterrada e ainda por explorar. Daí que estejam a decorrer em simultâneo quatro expedições destinadas a colectar novos conhecimentos sobre os ocupantes de tal monumento.
Hoje há quem o qualifique de oitava maravilha do mundo e a atribua à megalomania do imperador Qin Shi Huangdi que, tão só chegado ao trono, logo a mandou começar a construir.
Ainda assim a personalidade de tal soberano não merece admiração por ter ascendido à imortalidade graças à fama de conquistador e deste seu monumento: a História reteve do seu reinado uma sucessão de violentos crimes contra os povos conquistados e os seus inimigos políticos, habitualmente condenados à morte por enterramento em vida. Muitos deles eram eruditos cuja inteligência merecia a maior das desconfianças do tirano que só parecia satisfazer-se com um acatamento incondicional à sua vontade.
Desde há quatro décadas que os trabalhos prosseguem incessantemente nos 56 quilómetros quadrados abrangidos pelo mausoléu e edifícios a ele anexos. Todos os dias os arqueólogos trazem à luz novas peças enquanto alguns especialistas testam as armas para identificar os materiais e as técnicas sofisticadas a que recorreram quem as fabricou.
Cruzando os resultados desses estudos, o documentário de Ian Bremner, recentemente estreado, combina testemunhos de historiadores com reconstituições e sequências animadas de forma a reescrever a história do maior monumento funerário alguma vez descoberto e uma civilização, que se equipara sem favor à do Império Romano então igualmente em formação.
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