quarta-feira, junho 18, 2014

TEATRO: «Longa Jornada para a Noite» de Eugene O'Neill (1987)

«Longa Jornada para a Noite» é uma peça em quatro atos do dramaturgo norte-americano Eugene O’Neill, que viveu entre 1888 e 1953.
Embora a tenha escrito em 1941 a obra só viria a ser conhecida postumamente em 1956, altura em que ocorreram as primeiras representações autorizadas pela sua viúva em Estocolmo, Milão, Berlim, Nova Iorque e Paris.
Dedicada precisamente a Carlotta, o autor penalizara-se por lhe legar uma obra escrita “com lágrimas e sangue”.
A história passa-se num só dia de agosto de 1912 no lúgubre salão da casa de férias dos Tyrone e constitui uma longa confissão dos seus quatro personagens principais ao longo de quatro horas de representação.
O’Neill fez desta obra a catarse das suas próprias memórias desse mesmo ano de 1912, quando passou férias com a família numa vivenda do Connecticut. Terá sido aí que, a exemplo do personagem Edmund Tyrone (o seu alter ego na peça), se soube tuberculoso e obrigado a internar-se num sanatório onde iria escrever a sua primeira peça.
O pai de Eugene O’Neill também fora um ator em tempos popular com as suas digressões a protagonizar «O Conde de Monte Cristo».
A mãe, completamente agarrada à morfina, vagueava pelas divisões da casa a chorar a sua perdida juventude. E, quanto ao irmão mais velho, que dele procurava iludir os ciúmes, tentava-o arrastar para as suas tristes noitadas de copos e prostitutas.
O futuro dramaturgo vivera aterrorizado pelo clima insano, que predominava em certas noites passadas nessa vasta casa. Foram essas cenas de angústia, que reproduziu para a peça transformando este dia da família Tyrone num verdadeiro pesadelo.
No primeiro ato as personagens parecem acomodadas à desordem e à pobreza em que vivem. Mas, logo desde o início do segundo ato, a tensão sobe e as discussões criam uma tensão quase insuportável. Na sequência de uma cena de bebedeira o filho mais velho confessa a inveja por Edmund e como o quisera matar.
«Longa Jornada para a Noite» é uma peça amarga, extremamente incómoda e atravessada por gritos angustiados, que expiam as angústias do autor pela sua juventude atormentada.
Nota - o link abaixo refere-se à versão de 1987 da peça de Eugene O’Neill com as interpretações superlativas de Jack Lemmon, Kevin Spacey, Bethel Leslie e Peter Gallagher, com realização de Jonathan Miller.

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