segunda-feira, maio 05, 2008

UM FILME DE ANNE MARIE MIÉVILLE

Num artigo a propósito do recente lançamento em DVD de um filme de Anne-Marie Miéville («Depois da Reconciliação»), o crítico de cinema do «Diário de Notícias», João Lopes conclui:
«Os preconceitos correntes, incluindo os de raiz machista, tenderão a arrumar alguém como Anne-Marie Miéville na condição de "dependente" do seu parceiro masculino de criação (Jean Luc Godard).
Aliás, é bom que se diga que tal machismo, sobretudo nas suas formas mais "ri
sonhas", é todos os dias sustentado por muitos discursos com enorme implantação e poder social (a começar por algumas formas de publicidade televisiva). Ironicamente, qualquer mente minimamente disponível compreenderá que um filme como Depois da Reconciliação começa onde começam muitas telenovelas: no reconhecimento da crise do espaço familiar tradicional e da dificuldade de sustentar uma relação (conjugal, afectiva, sexual). As diferenças decorrem do simples respeito pela complexidade afectiva de cada ser humano».
Só pelo tema em si, vemos que o filme da realizadora francesa é bastante interessante, ao colocar questões de grande relevância nos dias de hoje: qual será o papel da família numa sociedade cada vez mais acelerada, em que não sobre tempo para a comunicação entre marido e mulher ou entre pais e filhos? Como sustentabilizar essa família enquanto instituição, se é cada vez mais frequente, que as profissões de cada um tendam a afastá-los geograficamente e a colocar distâncias físicas aonde já se tenderiam a cavar as temporais?
Estas questões, bastante complexas, não suscitam respostas fáceis. Sabemos que o ser humano é gregário por natureza. Que tem horror à solidão, ao silêncio!
Mas não está fácil encontrar a verdadeira quadratura do círculo, que seria conciliar as características sociais e profissionais dos dias de hoje com os requisitos afectivos, que todos comportam em si…

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