segunda-feira, julho 09, 2007

UM ARREPENDIDO A ABJURAR O CHE

É por demais conhecido o percurso ideológico do director do «Público»: depois de, na sua juventude, ter andado seduzido pelas teorias revolucionárias, veio a abjurá-las quando acometido de fatal envelhecimento precoce e irremediável. Hoje aquilo que parecem as suas ideias, mas mais não passam do papaguear de teses alheias, têm uma obsessiva tendência para acrescentar argumentos a esse viracasaquismo.
Na edição de domingo foi o Che quem se tornou a besta maldita a excomungar, servindo-se para tal de um obscuro opúsculo do filho de Vargas LLosa, cuja lamentável reputação decorre de ainda conseguir ultrapassar o progenitor em reaccionarismo, em ódio primário a tudo o que cheire a comunismo.
A força de Che Guevara, aquilo que faz dele o ícone de gerações sucessivas de jovens de todo o mundo, é a sua essência humana. É o saber-se que tanto acertou na utopia por que deu o melhor da sua vida, como errou na forma e nas estratégias por que as pretendeu implementar.
Os que admiram Che de forma consequente não fazem dele um Deus inatacável. Ele era homem e como tal com as virtudes e defeitos de qualquer um de nós. Mas o que é nele admirável é esse inconformismo com a má sorte dos desvalidos deste mundo e a possibilidade de se vir a criar um mundo novo a sério. Um mundo feito de justiça, de igualdade e de solidariedade entre os que o desejam. E essa é ambição, que prosseguirá no coração dos justos deste mundo, aqueles que acreditam ser possível criar na Terra o que as várias igrejas só prometem para os seus diversificados paraísos.
Os que querem enlamear a memória de quem assumiu a dimensão de símbolo para milhões de pessoas apostadas em contrariar a injustiça só se definem a si mesmos como veículos da mensagem contrária: a que o mundo está bem como está, com um punhado de oligarcas a quererem consumir os recursos a todos pertencentes.
Que José Manuel Fernandes se comova com a sorte dos «pobres diabos» mandados fuzilar pelo revolucionário argentino diz bem da sua involução ideológica: foram «pobres diabos» quem acabaram por assassinar o Che nas montanhas bolivianas. Ora, como lembrava alguém cujos ensinamentos o director do «Público» esqueceu, a revolução não é propriamente um convite para jantar...

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