terça-feira, julho 31, 2007

Gente sem estatura

Do correr dos dias podem-se escolher muitos exemplos para abordar o estado do mundo numa ou noutra perspectiva. A realidade é tão plural, que dá para demonstrar todas as teses e as suas contrárias. Vale a pena, por isso, partir de uma citação quase ao acaso das leituras quotidianas e dela partir para a interpretação do que vai fazendo notícia nos telejornais.
Foi Lord Byron quem disse: «Os espinhos que me feriram foram produzidos pelo arbusto que plantei».
Trata-se, pois, de uma variante do mais prosaico «cá se fazem, cá se pagam».
Lembrei-me deste provérbio ao ver um patético (e pateta) Marques Mendes a saltitar ao lado de Jardim no comício do Chão da Lagoa.
Anda um minúsculo personagem a ensaiar saltos altos para parecer crível no papel de líder da Oposição e logo se vai render aos encantos do ditador de uma República das Bananas, que se recusa a cumprir sequer os aspectos mais formais da chamada legalidade democrática. Para benefício de José Sócrates, que até nem precisava de tão grotesco opositor, Marques Mendes vai-se reduzindo ao que nunca deixou de ser: uma marioneta distraidamente agitada por desinteressados titereiros.
Já mais perigoso é o fraudulento «herói» da independência maubere. Que Xanana nunca teve a estatura de Nicolau Lobato já se compreendeu há muito tempo. Oportunista apanhado na vertigem dos acontecimentos à sua volta, viu-se guindado a líder da Resistência sem muito bem saber como. O coração até batia compassadamente com o dos cúmplices da invasão indonésia.
Nunca mais foi aflorado esse grotesco episódio em que da prisão ele pediu aos seus compatriotas para desistirem da luta contra o ocupante, aceitando o estatuto de menoridade, que Alatas pretendia atribuir-lhes. Já então o atraía o prato de lentilhas proposto pelo poderoso vizinho.
Azar o seu: a persistência de António Guterres e de Jaime Gama conseguiu impor uma perspectiva diferente no cenário geopolítico da viragem do milénio e ao preço de muito sangue derramado, nasceu a República de Timor Leste.
Xanana prende-se, então, de amores de uma jornalista australiana que, ou pertence aos serviços secretos australianos ou se dispõe patrioticamente a defender-lhes a estratégia com a máxima eficácia. Porque, não esqueçamos, o Mar de Timor é fértil em petróleo. E, caídos os indonésios, são agora os australianos quem olham gulosamente para esses recursos naturais.
Explica-se, assim, a queda da Fretilin do corajoso Mari Alkatiri, que sempre pugnou por uma divisão justa desses recursos exploráveis entre as costas dos dois países. Uma vez mais Xanana aparece a aceitar o prato de lentilhas, vestindo a pele de primeiro-ministro.
Para os timorenses, que ajudaram a criar um ícone com tão escassas qualidades, o despertar para a realidade pode tornar-se demasiado doloroso. Depois de se libertarem dos seus opressores, não se livram de quem os quer espoliar das riquezas, que lhes daria novas oportunidades para um melhor futuro...

Sem comentários: