domingo, julho 15, 2007

Teatro Meridional: «À manhã» de José Luis Peixoto

José Luís Peixoto vem-se confirmando como um dos principais dramaturgos da cena teatral portuguesa do séc. XXI.
Contrariando uma característica muito comum noutros autores, o autor de «Cemitério de Pianos» não tenta amalgamar um conjunto muito diverso de temas num mesmo texto, antes aprofundando um só a que confere uma sólida consistência.
Quando os últimos espectadores se instalam e a luz se cinge ao espaço cénico, damos com uma velha louca, Olga, que fugiu de casa e anda à procura de «bocanços« por parte do seu amado. Que julga identificar no Estragão, que anda a semear favas na horta.
Pegando nela para a entregar ao marido, que Olga confunde com o austero pai, Estragão passa em frente à casa de Macha, acabada de chegar da Inglaterra, aonde estivera com a filha Lucrécia. Um sítio aonde ela descobriu que se fala pouco de sexo, mas se pratica mais, impressionando com isso a vizinha Irininha, que além de calhandreira, finge de grande puritana por jamais ter conhecido homem.
Falta então Vladimir, o marido de Olga, muito descoroçoado com a sua irreversível desorientação e, também ele, ávido de bocanços com as demais velhas da aldeia.
A peça torna-se, amiúde, uma comédia com os desencontros dos afectos, mas o tema principal é o da solidão dos velhos nas terras desertificadas do interior e a sua ânsia de uma afectividade, que receiam conduzir até à consumação.
Depois há, também, um riquíssimo vocabulário popular, que o dramaturgo investigou e recriou dando soberba oportunidade aos actores para nos surpreenderem com um desempenho irrepreensível.
Na hora e dez, que dura, deparamos com estereótipos bem alicerçados numa realidade específica, que Peixoto conhece muito bem...

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