quarta-feira, julho 04, 2007

Involuntárias entradas de leão

Até não se lhe pode assacar grande responsabilidade nos seus sucessos imediatos ao mudar-se para o nº 10 de Downing Street. Mas Gordon Brown pode considerar-se um sujeito afortunado: a eficácia com que a polícia inglesa desarticulou uma pífia ameaça terrorista joga claramente a seu favor. Começando a empurrar o legado do antecessor para o lugar na História, que ele merece: um político habilidoso, que soube jogar com as circunstâncias para fortalecer a economia numa perspectiva capitalista - afastando de forma drástica o legado socializante do seu partido - mas descredibilizado pelo acéfalo seguidismo de um expansionismo norte-americano, que partiu os dentes no Iraque.
O primeiro discurso do novo primeiro-ministro inglês foi animador: ciente de quão em perigo estão os actuais equilíbrios sociais com o assalto ao poder do novo líder conservador, Gordon Brown prometeu uma verdadeira revolução.
Os primeiros dias, porém, distraíram-nos de qualquer mudança significativa: desde a semana transacta, que diversos carros armadilhados causaram emoções fortes nas ruas de Londres e junto ao aeroporto de Glasgow num claro aviso ao recém nomeado: não se podem esquecer as suas raízes escocesas.
Por sorte ou por mérito da polícia inglesa, os vários atentados frustraram-se, reiterando uma certa sensação de confiança assumida pela população, que vê justificadas as câmaras espalhadas um pouco por todo o lado.
Mas os verdadeiros desafios são os que se seguirão: qual a postura de Brown em relação ao atoleiro em que se converteu o Iraque? Que resposta dará ele a uma Europa de onde os seus concidadãos se sentem muito mais afastados do que os escassos quilómetros de largura do Canal da Mancha? Que políticas desenvolverá para diluir as gravosas diferenças sociais, que os trabalhistas herdaram dos governos de Thatcher e de Major?
Num continente aonde as políticas de direita não têm mostrado capacidade para vencer os desafios da globalização, do aquecimento planetário ou da progressiva escassez de recursos energéticos e hídricos, a chegada de Gordon Brown ao poder abre reiteradas expectativas. Sobretudo porque quase concomitantes com o surgimento do Die Linke na Alemanha e com a ascensão de Veltroni á liderança da esquerda italiana…
Qual será, então, a evolução do Partido Socialista nesse contexto? Nesta altura ainda se justifica alguma prioridade ao equilíbrio orçamental e ao combate de muitos dos corporativismos remanescentes de tempos idos. Mas a esquerda socialista não pode ficar entregue aos ressabiamentos de Manuel Alegre ou à confusão ideológica de um Medeiros Ferreira.
Há uma grande urgência em se repensar no papel dos socialistas na sociedade portuguesa da próxima década. Esperemos que de Inglaterra soprem ventos inspiradores e consistentes...

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