segunda-feira, julho 16, 2007

Eleições autárquicas em Lisboa

As eleições autárquicas de Lisboa sugerem seis reacções possíveis, metade positivas, outra metade de sinal contrário.
Comecemos, então, pelas más notícias:
1. A vitória escassa de António Costa, que o obriga a concertação com outras forças políticas, cujos objectivos próprios são contraditórios com os do candidato socialista. Bem pode o PS orgulhar-se de um resultado melhor do que os que quase sempre conseguiu na capital, que a capacidade para agregar individualidades em torno da candidatura não encontrou correspondência no voto dos eleitores. Um resultado que espelha, afinal, o muito a fazer no sentido de melhorar a imagem do Governo nos próximos meses para diluir o divórcio verificado até agora;
2. O sucesso de candidatos populistas arvorados em independentes, que iludiram muitos eleitores com propostas demagógicas, embora estivesse apenas em questão os seus exacerbados egos.
3. A estagnação do eleitorado de Sá Fernandes apesar do seu mediatismo na defesa de princípios, que o conotaram com um certo quixotismo. Os lisboetas terão ficado quase indiferentes a esse incansável labor em prol dos seus direitos.
Mas houve naturalmente boas notícias:
1. A melhor das notícias foi o resultado do CDS/PP. Dado que Paulo Portas colocou muito alta esta fasquia, considerando-a um teste à sua liderança, a votação ridícula de Telmo Correia - incapaz sequer de garantir um vereador - torna-se oportuna a citação de Karl Marx, quando dizia haver sempre a repetição de fenómenos políticos: da primeira vez eles manifestam-se sob a forma de tragédia, da segunda como comédia. Ora, o regresso do Paulinho das feiras à liderança do CDS/PP com o objectivo de vir, a partir dele, liderar toda a direita portuguesa, está a revelar-se burlesca nos seus resultados.
2. A derrota do PSD, que ficou em terceiro lugar, não só abaixo de Carmona Rodrigues, mas a metade do resultado do vencedor. O que obriga Marques Mendes a convocar eleições para a liderança, provavelmente para ser derrotado pelos testas de ferro do perseverante Santana Lopes. Que está, igualmente, disposto a arriscar uma experiência similar à do seu antigo Ministro da Defesa. Mas se a episódica passagem pelo poder já foi hilariante, que limites conhecerá essa repetição na vertente da comédia?
3. A reiterada demonstração da dimensão da extrema-direita em Portugal: menor do que um grupúsculo, o partido fascista não se mostra capaz de alavancar as pulsões xenófobas dos estratos mais baixos do eleitorado. O lumpen, afinal, não é aqui tão sugestionável pelo discurso de ódio ao estrangeiro, ao contrário do que acontece em paragens não muito distantes.

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