quinta-feira, julho 12, 2007

A arte portuguesa na Gulbenkian

Ao segundo e ao terceiro dia o curso sobre Arte Portuguesa dos últimos 50 anos ganhou maior interesse muito graças à formadora de seu nome Carla Mendes. Apesar de ainda relativamente jovem, ela demonstra uma erudição e uma capacidade para tornar transversal a sua análise sobre o objecto da sua dissertação, que nós, enquanto formandos, ficámos rendidos.
Algumas linhas de força interessantes desta aula foram:
1. A frequente estultice dos críticos de arte, que inventam, amiúde, as mais estrambólicas explicações para objectos artísticos, que valem tão só pela sua forma ou pela sua cor;
2. A importância de Azeredo Perdigão enquanto motor da divulgação e do desenvolvimento da arte contemporânea em Portugal;
3. O conselho de Amadeo de Sousa Cardoso aos seus jovens pares: que saíssem o mais rapidamente do pais, enquanto era tempo;
4. A extraordinária juventude de Almada Negreiros com as quatro imagens abstractas de 1969, que estão na primeira sala do piso –1.
5. A consideração da arte contemporânea como aquela que privilegia a sensação pura em detrimento da ideologia ou da racionalidade;
6. A relativa pobreza da arte portuguesa na década de 70, não havendo correspondência entre a liberdade conquistada e a sua tradução em suportes artísticos.
7. A tendência em alguns artistas - António Areal, Paula Rego - para regressarem ao figurativo, depois de um período claramente abstraccionista.
8. O desaparecimento de alguns criadores com obras muito interessantes na sua fase de bolseiros - Armando Azevedo, Paulo Morais, Emílio Jordão - e cujo talento ficou por potenciar, desconhecendo-se, nalguns casos, o que lhes terá sucedido depois a nível biográfico.
9. O papel que a fotografia teve na libertação da pintura, ao dispensá-la da reprodução «fiel» de uma qualquer realidade, possibilitando-lhe a exploração de outras vias de ilustração de um estado de alma ou de uma afirmação do seu tempo.
10. A permanente intenção de muitos criadores em rejeitarem quaisquer escolas, doutrinas ou ideologias buscando um estilo original em ruptura com academismos ou preconceitos.

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