quarta-feira, junho 04, 2025

"O País dos Outros" – Colonos em Terra Alheia

 

No romance "O País dos Outros" de Leïla Slimani, somos convidados a conhecer a vida de Mathilde, uma jovem alsaciana que casou com Amine no fim da Segunda Guerra Mundial e foi com ele viver para Marrocos, mas também a complexa dinâmica entre colonizadores e colonizados. O título, "O País dos Outros", ganha ressonância ainda mais forte ao explorar a perspetiva dos colonos franceses que, apesar de habitarem e explorarem a terra marroquina, nunca a sentem verdadeiramente como sua.

Mathilde sente-se forasteira num casamento e numa cultura que luta para compreender. No entanto, o livro vai para além da experiência individual de Mathilde mostrando-nos como a comunidade de colonos, da qual ela faz parte, vive num limbo. Construíram as suas vidas, explorações agrícolas e negócios em Marrocos, mas o chão sob seus pés é instável. O país é "deles" (dos marroquinos) e sempre foi, independentemente da ocupação.

À medida que a intriga avança para o período que antecede a independência de Marrocos, a tensão intensifica-se. A elite colonial francesa, que antes detinha o poder e os privilégios, começa a sentir a iminente perda de controle. O que era visto como "sua" colônia está prestes a tornar-se novamente "o país dos outros". A presença dos colonos, de dominadores, passa a ser a de convidados indesejados, ou, na melhor das hipóteses, de estrangeiros sem raízes profundas. A própria Mathilde, apesar da condição de "esposa de marroquino", sente-se presa nesse conflito identitário e político.

Leïla Slimani retrata a inversão de papéis e sentimentos. O temor, a incompreensão e até o ressentimento dos colonos diante da ascensão do nacionalismo marroquino são palpáveis. Eles veem o fim de uma era, o desmoronamento de uma estrutura que lhes garantia poder e status. Em "O País dos Outros", a autora força-nos a refletir sobre a complexidade da colonização sob uma ótica muitas vezes esquecida: a daquele que, mesmo dominando, nunca pertenceu, e que agora enfrenta a inevitável devolução do "país" aos seus verdadeiros donos.

Sem comentários: