terça-feira, junho 24, 2025

"The French Connection" de William Friedkin: ainda faz sentido vê-lo cinco décadas depois?

 

Lançado em 1971, "The French Connection" ("Os Incorruptíveis Contra a Droga") é um clássico e uma experiência cinéfila que continua a provocar reflexão. Num tempo saturado de filmes de ação, ainda faz sentido dedicarmos tempo a esta obra de cinco décadas atrás? A resposta é sim, e por várias razões.

William Friedkin rompeu com as convenções da época ao apresentar uma Nova York suja, caótica e perigosa, longe do glamour muitas vezes retratado no cinema. A abordagem quase documental, com câmaras que pareciam captar cenas aleatórias em vez de perfeitamente coreografadas, confere autenticidade ao filme. Ademais, não há heróis idealizados; há detetives obcecados e, por vezes, moralmente ambíguos, como Jimmy "Popeye" Doyle (Gene Hackman).

Essa crueza e realismo ainda são um contraponto fascinante a muitos filmes contemporâneos que, por vezes, priorizam o espetáculo em detrimento da profundidade.

Popeye Doyle é um anti-herói singular da história do cinema. Com o seu racismo velado, métodos questionáveis e uma obstinação quase patológica, é a personificação da imperfeição humana em busca de justiça. A sua forma de agir é uma análise da dedicação e dos sacrifícios pessoais no combate ao crime. Numa era que aprecia protagonistas com camadas e dilemas morais, a figura de Doyle permanece incrivelmente relevante, desafiando o espectador a confrontar o que realmente significa ser um "herói".

É impossível falar de "The French Connection" sem mencionar a cena da perseguição de carro e comboio. Filmada sem auxílio de efeitos digitais, é um testemunho do talento de Friedkin e da audácia da sua equipa técnica. A adrenalina é real, o perigo é tangível, e o impacto dessa sequência ressoa como padrão para cenas de ação. Ver essa sequência é revisitar uma aula de como construir tensão e ritmo, algo que transcende épocas e tecnologias.

"The French Connection" conquistou o Óscar de Melhor Filme, mas também redefiniu o género, abrindo caminho para uma fase de filmes mais sombrios e realistas, influenciando gerações de cineastas e estabelecendo um novo paradigma para a representação do trabalho policial. Vê-lo corresponde a  depararmo-nos com um pedaço fundamental da história do cinema que continua a ser estudado e imitado.

Faz todo o sentido ver "The French Connection" em 2025, porque oferece uma experiência intensa e autêntica, com atuações competentes e uma narrativa atemporal que explora os lados sombrios da lei e da ordem. É um filme que lembra que a grandeza de uma obra não se mede pela idade, mas pela capacidade de ainda cativar e fazer pensar. 

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