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quinta-feira, junho 19, 2025
O Eco Silenciado da Guerra nas Vozes Femininas
É um paradoxo cruel: a guerra, na sua brutalidade avassaladora, molda e desfigura a vida de todos, mas a narrativa que dela emerge raramente ecoa a totalidade das experiências. Por gerações, os relatos de batalhas, estratégias e heroísmos foram, quase sempre, contados por homens e sobre homens. O que fica de fora? A vastidão da perspetiva feminina silenciada ou relegada a um papel secundário.
No entanto, a ausência dessas vozes nos ensaios históricos não significa que as mulheres estivessem ausentes da guerra. Muito pelo contrário. Seja empunhando armas na frente de batalha, cuidando dos feridos, mantendo a vida nas cidades devastadas, ou suportando a angústia da espera por um filho, marido ou pai que talvez nunca mais voltassem, as mulheres viveram a guerra com uma intensidade que poucas narrativas oficiais conseguem capturar. São mães que veem os filhos partirem para o desconhecido, esposas que enfrentam a solidão e a incerteza, filhas que crescem sob a sombra do conflito, e, muitas vezes, militares que desafiam as expectativas de género para lutar lado a lado com os homens.
É precisamente essa lacuna a preenchida por Svetlana Alexeievna com "A Guerra Não Tem Rosto de Mulher". Ao dar voz a centenas de mulheres soviéticas que participaram na Segunda Guerra Mundial – como combatentes, médicas, enfermeiras, sabotadoras, entre outras funções – Alexeievna não apenas reescreve a história da guerra, mas humaniza-a profunda e dolorosamente. Ela revela não o que a guerra é em termos de táticas ou vitórias, mas o que faz com a condição humana, especialmente a feminina, na sua resiliência, sofrimento e sacrifício.
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