quinta-feira, junho 19, 2025

A Condição Feminina: O Marrocos como o "País dos Homens"

 

Continuando a abordagem por "O País dos Outros" de Leïla Slimani, depois de referirmos a experiência dos colonos e dos camponeses, chegamos ao tema das mulheres. É como se, para elas, o Marrocos fosse, muitas vezes, o "país dos homens".

Mathilde veio de França com aspirações de liberdade, mas na fazenda de Amine, a sua autonomia está sempre posta em causa. Os seus desejos, voz, ambições, tudo parece ter de se encaixar nas regras e na autoridade masculina. A casa, o trabalho e até as conversas são filtradas por uma estrutura onde o poder é, em grande parte, deles. Ela anseia por voar mais alto, por ser reconhecida por quem é, e não apenas pelo seu papel de esposa ou mãe.

Mas Slimani não se limita à Mathilde. Ela dá-nos um olhar sobre as vidas das mulheres marroquinas à volta dela. Nascidas e criadas naquele "país", elas também lidam com restrições e subordinações. As diferenças entre o que é permitido às mulheres e aos homens criam uma espécie de linha invisível. O mundo público, as decisões importantes, tudo parece pertencer ao "país dos homens", e as mulheres têm de navegar por estes limites, umas com resignação, outras com uma inteligência notável, e outras, como a Mathilde, com uma chama de rebelião que arde por dentro.

"O País dos Outros" mostra-nos, assim, que a sensação de ser um forasteiro pode ser sentida em tantos níveis: entre nações, entre classes sociais, e de forma pungente, entre géneros, num país que está a passar por uma mudança brutal.

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