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sexta-feira, junho 27, 2025
"Twin Peaks: Fire Walk With Me - The Missing Pieces" de David Lynch: um deleite caótico
"Twin Peaks: Fire Walk With Me - The Missing Pieces" não é para qualquer um. É uma daquelas obras que só fazem sentido para quem já mergulhou de cabeça no universo peculiar de David Lynch, especialmente na saga de "Twin Peaks". Para um novato, seria como tentar decifrar um sonho febril sem o dicionário dos símbolos. Mas para os iniciados, é um verdadeiro presente.
Este não é um filme no sentido tradicional; é uma janela extra, um suplemento vital para quem já se deixou envolver pela história trágica de Laura Palmer e pelos mistérios de Twin Peaks. As cenas que foram resgatadas aqui, e não viram a luz do dia na versão original de "Fire Walk With Me", são peças que se encaixam e aprofundam a compreensão de um mundo já de si complexo. Vemos mais do FBI, mais das vidas marginais que orbitam Laura, e até mais daquele lado onírico e perturbador que Lynch domina tão bem.
E é precisamente aqui que reside o maior charme – e o maior desafio – do filme: o lado absurdo. Há momentos em "The Missing Pieces" que são puro Lynch: diálogos desconexos, personagens com comportamentos inexplicáveis, e situações que desafiam qualquer lógica cartesiana. No entanto, o génio está em como esse absurdo tem a sua gramática interna, a sua lógica lynchiana. Não é um absurdo gratuito; é um espelho distorcido da realidade que reflete as angústias, os medos e a hipocrisia de um modo que a linearidade convencional jamais conseguiria. É como estar num pesadelo lúcido onde tudo é ilógico, mas as sensações e as emoções são intensamente reais.
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