Em o "O País dos Outros" Leïla Slimani faz-nos sentir a complexidade de viver numa terra que não sentimos nossa. Foca-se na protagonista, Mathilde, claro, mas também na sensação dos colonos franceses perante um Marrocos à beira da independência, um Marrocos que, de repente, passa a ser "o país dos outros".
Slimani mostra que o sentimento de não-pertença vai muito além de quem vem de fora. Amine, o marido da Mathilde, valoriza sobretudo os campos: a terra é tudo – o sustento, a labuta diária, a identidade mais profunda.
Contudo, para os camponeses marroquinos, como o próprio Amine e sua família, há uma outra camada de estranheza. Eles vivem, a seu modo, no "país dos citadinos". Longe do ritmo e das oportunidades das grandes cidades como Rabat ou Casablanca, a vida no campo é dureza, é tradição forte e sacrifício constante. As conveniências e mentalidades urbanas são um mundo à parte, um "país" que lhes parece distante, quase inacessível.
Mathilde, embora francesa, sente essa dicotomia na pele quando se isola na fazenda, vivendo a rudeza do rural face ao urbano de onde veio.
Ficam expostas as fraturas internas de uma nação: a independência política, por si só, não apaga as disparidades sociais e culturais. A terra que para os colonos era poder e agora é perda, para os camponeses é uma luta diária, e para eles, paradoxalmente, um lugar onde as regras são ditadas por um "país" diferente, o dos citadinos.
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