domingo, junho 15, 2025

Entre a Partida e a Permanência

 

Impacto significativo o das páginas de "Educação da Tristeza" de Valter Hugo Mãe na sensibilidade com que o autor aborda a ausência: "As pessoas que perdemos somam. Somam à ausência mas são nosso património mais delicado, um reduto de fortuna e saudade que detemos mais dedicadamente do que ouro."

Esta passagem não poderia ser mais pertinente para o que sinto. A Elza, mesmo com a doença a afastá-la desta realidade, continua a somar. Permanece o património cúmplice, construído nas partilhas, risos e talvez algumas lágrimas, mas sempre com amor.

A grande verdade, e a esperança que o livro traz, reside na ideia de que a perda de alguém que se amou profundamente não é apenas sinónimo de tristeza. Valter Hugo Mãe sugere haver mais: não se trata de apagar a dor, mas de a moldar, de a fazer coexistir com a riqueza da recordação. A tristeza, "não desaparece, ela torna-se respeitosa com a necessidade de sobreviver, de continuar a lembrar, de continuar a amar".

É isso que anseio: que a memória da Elza, quando o momento chegar, seja preenchida pela alegria da recordação. Que as infinitas coisas boas que vivemos juntos se sobreponham ao vazio da ausência. Que a sua pessoa, cheia de vida e de tudo o que nela se me tornou tão especial, prevaleça.

"Educação da Tristeza" sugere que a memória é um lugar onde o amor não morre, apenas se transforma. É um convite a abraçar a plenitude do que foi vivido, permitindo que a alegria das lembranças mais queridas seja farol na escuridão do luto. Mesmo na tristeza, o livro funciona como guia a iluminar o caminho de celebração do amor que sempre nos unirá.

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